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Resenha | A Pena Mágica de Gwendy de Richard Chizmar


A Pena Mágica de Gwendy de Richard Chizmar tem o mesmo sabor amargo e insosso daquelas continuações cinematográficas de clássicos de Stephen King, que tentam a todo custo capitalizar e explorar suas ideias, mas falham nos pontos mais importantes. É bem provável que Chizmar ao sentar para escrever essa história, já tivesse a informação de que Stephen King retornaria para coescrever o último livro da trilogia, e por este motivo ficou medo de tomar muitas liberdades com relação ao destino dos personagens, exatamente por não saber qual deles King gostaria de usar no futuro. Ao longo da leitura fica claro que a única ideia aprovada era o arco evolutivo de Gwendy, que a prepara para o livro final, pois o resto são cenas que existem somente para encher páginas e referências vazias para alimentar leitores fiéis de King.  

Enquanto a história de A Pequena Caixa de Gwendy conseguiu misturar razoavelmente bem uma trama de amadurecimento com um thriller de mistério instigante, a narrativa de A Pequena Caixa não consegue ter uma identidade própria, principalmente porque não se decide e não se aprofunda em nenhuma das premissas que se propõe a mostrar. O mistério existente em suas páginas, sobre as garotas estão desaparecendo em Castle Rock, é totalmente subutilizado e termina num pastiche desavergonhado de Zona Morta, e o próprio conceito da pena mágica, apesar de seu significado metafórico, no final é bem decepcionante. O principal acerto da história é o drama de uma Gwendy mais velha e experiente, enfrentando problemas diferentes da Gwendy jovem do primeiro livro, sendo colocada na posição de guardiã da caixa outra vez. 

Quando sua mãe adoece, Gwendy é levada aos limites da sua consciência e as mesmas questões morais que a assaltaram na adolescência retornam com implicações mais dramáticas. Entretanto, mesmo essa subtrama é inflada com diversos elementos desnecessários, abordados de forma superficial, que quebram seu clima de tensão, como a relação com um marido, cujo desenvolvimento é praticamente inexistente, uma suposta figura que parece a seguir por Castle Rock e a obtenção de poderes que surgem do nada. A falta de avanços na mitologia da Caixa e de detalhes sobre a identidade de Richard Ferris é mais um ponto nessa sequência de erros, o livro ao invés de servir como uma ligação forte entre as histórias dos outros volumes da trilogia, parece mais um capítulo estendido que explica a passagem do tempo através de uma sucessão de detalhes mundanos que não tem impacto algum no contexto geral da obra. 

A Pena Mágica de Gwendy é uma leitura rápida, que tenta tentar emular os mesmos truques narrativos usados por Stephen King em seu universo literário, mas que não convence por não ter uma identidade própria. Sua existência abre espaço para uma discussão interessante: até que ponto vale a pena a exploração capitalista da obra de King, especialmente de histórias abandonadas ou não finalizadas escritas por outros autores? Será que é uma boa ideia? A Pena Mágica mostra que não, pelo menos do ponto de vista do leitor, que acaba pagando mais caro em um produto simplesmente porque o nome de Stephen King está ligado a ele. No final o livro de Richard Chizmar, não só poderia, como deveria ter sido muito melhor.

   
  A Pena Mágica de Gwendy (2022) | Ficha Técnica
   Título original: Gwendy's Magic Feather (2019)
   Autor: Richard Chizmar
   Tradutora: Regiane Winarski
   Editora: Suma
   Páginas: 352 páginas
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   Nota:☠☠☠☠☠☠(4/10 Caveiras)

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