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Resenha | O Pecado dos Irmãos Stuyvesant de Elleston Trevor


A popularização da literatura de horror em meados da década de setenta provocou um movimento de escritores estabelecidos, que buscavam capitalizar financeiramente esse momento, escrevendo cópias baratas de premissas de sucesso, ao mesmo tempo em que adotavam pseudônimos, pois não queriam sua reputação associada ao gênero. Como resultado surgiram diversas imitações superficiais de best-sellers da época, que tentavam repetir esse sucesso causando o máximo de desconforto e choque no leitor com suas histórias. Um desses casos é The Sibling de Adam Hall, que foi publicado no Brasil com o nome real do autor, O Pecado dos Irmãos Stuyvesant de Elleston Trevor, famoso por seus romances de espionagem.

Essa foi uma das únicas incursões de Elleston Trevor no gênero, além de uma continuação chamada The Sister (1993), e que hoje jaz completamente esquecida por méritos próprios.  A história não só envelheceu mal como reproduz a misoginia do autor, amplificada pela temática abordada, a do incesto. Suas representações de relações sexuais são datadas e extremamente problemáticas, ao invés de usar o tema para retratar a corrupção e degradação moral de uma família de classe média alta americana, o utiliza para criar cenas de choque gratuitas envolvendo uma representação romantizada de uma relação incestual, com direito a cenas de estupro e mutilação genital. É interessante notar que essa obra foi publicada no mesmo ano que O Jardim dos Esquecidos de V. C. Andrews, um suspense psicológico que aborda a temática de forma completamente diferente e é republicada até os dias de hoje.

A história é confusa, inverossímil e mistura diversos elementos sem sentido, basicamente explorando a rivalidade entre dois irmãos que se transforma em desejo sexual. A narrativa tenta inserir elementos sobrenaturais para dar profundidade as ações do protagonista, insinuando uma dualidade entre loucura e possessão, mas falha ao focar excessivamente em cenas explícitas e cheias de detalhes sexuais e violência gratuita. Em nenhum momento da trama existe uma sensação real de perigo, ou algo que se assemelhe a medo ou suspense, pelo contrário, as situações são artificiais e só acontecem porque nenhum dos personagens adultos se comporta como um ser humano real e ignoram deliberadamente a relação bizarra entre os protagonistas e suas implicações. 

O Pecado dos Irmãos Stuyvesant é simplesmente um livro ruim, escrito por um autor que não entende o gênero e que o vê a partir de seus próprios preconceitos, é vazio em sua temática e superficial em sua escrita. Nas mãos de um autor mais competente, sua premissa poderia ter sido utilizada para criticar a classe média americana, suas compulsões consumistas (a cena inicial é literalmente a matriarca familiar sendo enterrada dentro de um carro de luxo), e a degradação moral das relações sociais e familiares nos anos setenta. Mas acaba sendo apenas uma sucessão de choques datados e previsíveis.  

   
  O Pecado dos Irmãos Stuyvesant (1981) | Ficha Técnica
   Título original: The Sibling (1979)
   Autor: Elleston Trevor
   Tradutor: Francisco Manuel da Rocha Filho
   Editora: Francisco Alves
   Páginas: 233 páginas
   Compre: ---
   Nota:☠☠☠☠☠(3/10 Caveiras)

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4 Comentários

  1. Cara, como você acha essas pérolas. Nunca tinha ouvido falar desse livro e essa capa (pelo menos ela) é boa demais. Inclusive mandei uma mensagem e um convite no seu Skoob pra batermos um papo. Ótimo blog como sempre

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    1. Eu sempre digo que a leitura de um livro começa bem antes de você abrir a primeira página, envolve o processo de busca, de procura, de pesquisa, tanto online quando físico. Encontro esses livros esquecidos revirando estantes de bibliotecas públicas e sebos, mas acima de tudo pesquisando em sites e blogs americanos, ingleses, espanhóis, argentinos, mexicanos, enfim, consumindo muita produção de conteúdo sobre literatura de terror de diversos países. E posteriormente verificando se tais existem no Brasil.

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  2. Sou fã aqui do Biblioteca a anos já,você tem redes sociais pra te seguir Rafa?

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    1. Fala José! Apesar de não nos conhecermos sei quem você é, sempre aparece comentando nos mais diversos lugares, é um dos leitores mais assíduos. Agradeço pelo carinho. Eu sou bem reservado com relação a minha vida particular e não uso nenhuma rede social nesse sentido. Na verdade eu só tenho conta em algumas pra divulgar o site. O lugar mais fácil de você me encontrar para conversar sobre literatura é o Skoob, estou sempre atualizando minhas leituras por lá.

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