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Resenha | Terra Morta: Fuga de Tiago Toy


A literatura de horror sempre explorou as emoções e medos mais profundos dos ser humano, seu papel sempre foi transformar em palavras sentimentos como aquele frio na barriga de quando nos confrontamos com o escuro, os arrepios que surgem quando as sombras começam a se movimentar e tomar formas estranhas e até mesmo aqueles momentos em que a sanidade é testada com a tensão de uma visão que desafia a imaginação. 

Uma das questões que mais intriga a humanidade desde seus primórdios é com o que acontece quando a  vida chega ao fim e se há alguma coisa além. Há muito tempo que a literatura explora a atração mórbida que temos com a morte, tentando desafiá-la, ludibriá-la e vencê-la em seus próprios domínios. Do mesmo modo que crenças antigas se apoiavam no retorno dos mortos, a ciência também tinha interesse em descobrir o segredo para a vida eterna, para isso antes era preciso ter domínio sobre a morte. Frankenstein de Mary Shelley e o reanimador Herbert West de Lovecraft são exemplos desta época. 

Mas o homem não foi criado para brincar de deus e suas grotescas criaturas acabavam se voltando contra seu criador. A partir do momento que a ideia de um morto-vivo conseguir infectar os vivos se disseminou estava criado o apocalipse zumbi.  O filme A Noite dos Mortos-Vivos foi a base da criação dos monstros modernos dando origem a uma grande explosão de histórias que até hoje alimenta livros, séries, filmes e jogos. 

Mas a grande popularização do gênero teve um resultado inverso fazendo com que muitas histórias se tornassem versões diferentes de um mesmo fim. A última grande obra inovadora que eu tinha lido foi Apocalipse Z de Manel Loureiro, narrado em primeiro pessoa como se fosse um diário mostra um retrato fiel do apocalipse através de uma visão espanhola, mas mesmo assim sentia falta de algo. Um cenário com que pudesse me familiarizar mais fácil de modo que me voltei a literatura nacional em busca de refúgio. 

Os livros de zumbis brasileiros possuíam boas histórias, mas o pecado de grande parte dos autores era tentar seguir os passos de escritores americanos, lógico que há os que fogem desta regra, mas a grande maioria produzia tramas que lembravam filmes trash com protagonistas improváveis e que não convenciam de sua realidade. Os livros que apostam mesmo em personagens brasileiros, pessoas como eu e você são poucos, mas sempre conseguem êxito na proposta. O que sentia falta era uma história de horror que conseguisse atingir o leitor nacional, não tanto pelos sustos, mas por ser algo que poderia acontecer na sua cidade. 

Nós não temos uma loja de armas em cada esquina, shoppings que mais parecem uma fortaleza feitos para aguentar um grandioso cerco ou até mesmo carros que parecem tanques de guerra sobre rodas. O que temos é o jeitinho brasileiro para contornar os problemas. É isso que Tiago Toy mostra em Terra Morta: Fuga. Tiago Toy possui um estilo narrativo bastante conciso, sem desperdiçar palavras consegue ao mesmo tempo descrever bem os cenários e personagens e manter a história em um ritmo rápido e ágil. 

Os zumbis brasileiros não possuem a lerdeza habitual dos mortos-vivos clássicos, ao contrário são seres extremamente rápidos, sem traços de inteligência, que em poucos dias conseguiram tirar o homem do topo da cadeia alimentar. Aviso: o apocalipse é contraindicado a pessoas obesas e sedentárias. 

Em uma pequena cidadezinha do interior paulista um súbito surto de violência se acomete sobre os moradores, as pessoas se tornam irracionais e agem como animais atacando qualquer criatura viva em sua frente com unhas e dentes. Não há tempo de organizar nenhum tipo de defesa, até porque as pessoas acostumadas com a calmaria reagem com uma lentidão mortal perante os vorazes e ágeis zumbis. Logo as ruas estão tingidas de vermelho e abarrotadas de membros mutilados. 

Em meio a esse caos caminham sombras que lembram seres humanos, um caminhar vacilante e sem direção, porém um olhar mais aproximado mostra que essas pessoas não são seres normais. Não são os trapos sangrentos ou a falta de pedaços do corpo que os denuncia. E sim seus olhos, um olhar que em nada lembra um ser humano. Um olhar animal.

Terra Morta reencontra a essência do zumbi em histórias de terror com uma nova visão, não é estranho reconhecer as referências a outras obras como quadrinhos e games, mas ao invés de fazer isso soar como clichê, o autor adapta a sua maneira a situação para o cenário da trama, conseguindo obter um êxito considerável. Talvez em uma história clássica o protagonista realizasse a primeira fuga roubando um carro do estacionamento e conhecesse a mocinha durante um salvamento no qual esmagava o crânio de vários zumbis. 

Em Terra Morta a realidade é outra. O protagonista reconhece que se tivesse aprendido a dirigir sua fuga talvez pudesse ser mais bem sucedida, que aquela corrida desenfreada por muros e galhos de árvore que o levou a ficar preso em um banheiro, com um zumbi socando a porta para fazê-lo em pedaços sem nenhum tipo de arma para se defender. Terra Morta não é o livro perfeito, mas para um primeiro romance de um iniciante se mostra um universo promissor, o destaque é tanto para a qualidade da história, que consegue absorver o leitor por completo, quanto pela visão inovadora e moderna do autor. 

   Terra Morta: Fuga (2011) | Ficha Técnica 
   Autor: Tiago Toy
   Editora: Draco
   Páginas: 248 páginas
   Compre: Amazon
   Nota: ☠☠☠☠☠☠☠☠☠☠ (10/10 Caveiras)

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1 Comentários

  1. O livro já me conquistou na sinopse, assim que li "apocalipse zumbi", mas fiquei muito feliz por saber que ele foge daqueles clichês. Fiquei curiosa para ler quando você falou de um apocalipse zumbi adaptado à realidade brasileira, sem lojas de armas e super shoppings.
    Já entrou pra lista. :D
    Beijo

    http://canastraliteraria.blogspot.com.br/

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