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Resenha | Terra Faminta de Andrew Michael Hurley


Terra Faminta de Andrew Michael Hurley utiliza o horror folclórico para refletir sobre o luto, explorando a desconfortante, confusa e interminável sensação de vazio que nos força a olhar para o sobrenatural e o oculto em busca de respostas. Sua trama se destaca pelo tom pessimista e sombrio de sua ambientação, explorando o mistério e o misticismo das paisagens rurais, e pela construção de múltiplas narrativas arrepiantes, mas falha em alcançar todo seu potencial, ao apresentar personagens rasos e de motivações ambíguas e um final ineficaz em preencher as expectativas criadas pelas descrições vívidas do sobrenatural ao longo do texto. 

Andrew Michael Hurley ficou conhecido por explorar o interior da Inglaterra inserindo lendas folclóricas como elemento preponderante em suas narrativas. Terra Faminta é o último livro de sua trilogia, não interligada, de histórias de folk horror, completando o ciclo iniciado por Loney e Devil's Day, este último inédito no Brasil. Sua principal característica é a desconstrução da paisagem idílica rural e da ideia adjacente de acolhimento e paz, para mostrar que esses lugares são difíceis de se viver, não apenas pelo clima e meio ambiente extremos, mas também pela hostilidade pessoas que vivem lá, bem como do próprio lugar, que é quase uma entidade. São locais com histórias macabras e associações com religiões esquecidas ou proibidas, cuja memória impressa no solo e na mente da população local geralmente é associada a algum acontecimento sangrento e mortal.

O cerne da narrativa de Terra Faminta está ligado a Starve Acre, seu título em inglês, a região para qual o casal, Juliette e Richard, se muda para criar seu filho, Ewan. A propriedade é  herança da família de Richard e possui um histórico sombrio que é revelado aos poucos durante a leitura. O ponto de ignição é a história de Ewan, de como seu comportamento se tornou cada vez mais errático, violento e imprevisível desde a mudança para Starve Acre e quais acontecimentos resultaram em sua morte. Ewan acreditava ouvir a voz de uma criatura de uma lenda local, que o assustava e obrigava a fazer coisas horríveis.

A narrativa então se desenvolve a partir da forma como Richard e Juliette encaram o luto, principalmente em como se distanciam pela falta de diálogo e compartilhamento da dor da experiência pela qual estão passando. Richard retoma o trabalho de seu falecido pai que estava tentando localizar as raízes de uma lendária árvore, que teve um papel importante na vida da comunidade da região. As lendas dizem que a tal árvore era usada para enforcamento e que a quantidade de vidas humanas que pereceram em seus troncos amaldiçoaram o terreno à sua volta. Juliette por outro lado, não consegue assimilar a morte de Ewan com facilidade. Ela acredita que ainda pode sentir a presença do menino na casa e tentar localizá-lo se torna sua obsessão, para isso enche o seu antigo quarto com espelhos e gravadores.

A narrativa se torna cada vez mais arrepiante conforme os dois começam a flertar com o sobrenatural. Richard leva para casa algo que encontrou durante uma escavação em Starve Acre e descobre que os processos da natureza não funcionam direito ali, são distorcidos e macabros. Juliette é encorajada por um amigo da família a participar de um ritual com um grupo de místicos que promete a ajudar a lidar com sua perda. A partir de então, o que já não estava certo, começa de forma bizarra a dar errado. A construção do suspense é sufocante, você não sabe exatamente o que é real ou o que é imaginação dos personagens, o perigo emana de todas as direções, da criança, das lendas locais, da própria casa, da família, da região. É uma pena que todos esses pontos não se amarrem na conclusão. O final deixa um gosto amargo de incompletude. Um epílogo teria feito toda a diferença.

Se você é fã das histórias contemporâneas de horror psicológico, cujo desenvolvimento é mais lento e suave, onde o sobrenatural é apenas um toque que dá uma coloração sombria à realidade, este livro é para você. Por outro lado se você prefere histórias de terror mais explícitas e viscerais irá se decepcionar, grande parte do medo aqui advém da ambientação. Terra Faminta é ótimo ao explorar os efeitos do luto e as várias maneiras como as pessoas tentam lidar com isso; bom ao explorar ambientação do subgênero do horror folclórico, e insuficiente ao apresentar um final que justifique toda a jornada até ali. Mesmo assim uma é leitura indicada, com ressalvas, aos fãs do gênero. 

   
  Terra Faminta (2021) | Ficha Técnica 
   Título original: Starve Acre (2019)
   Autor: Andrew Michael Hurley
   Tradutor: André Czarnobai
   Editora: Intrínseca
   Páginas: 240 páginas
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   Nota:☠☠☠☠☠☠☠(7/10 Caveiras)
 

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1 Comentários

  1. Olha, confesso que não gostei do livro, primeiro vou explicar porque. pra mim, terra faminta é mais um suspense do que um terror psicológico, a história não progrediu em momento algum, do ponto A ao ponto A. a narrativa não me prendeu, achei muito arrastado e, por vezes, mais do mesmo, achei os personagens desinteressantes e mau construídos, ( MDS, eu não aguentava mais a Juliette e o Richard, os dois são um porre ao longo de toda a história ). Também achei o final muito abrupto e anticlímatico, deixou uma sensação de o livro estar incompleto ou faltando algo á mais. Sinceramente, como um leitor voraz de livros de terror/horror, esse não assusta nem um pré adolescente, achei bem fraquinho no quesito terror.

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