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Resenha | A Pequena Caixa de Gwendy de Stephen King e Richard Chizmar


Em 1983 foi publicada uma novelização do filme de Twilight Zone escrita por Robert Bloch, que foi traduzida no Brasil como No Limite da Realidade, com quatro histórias baseadas nos roteiros de John Landis, George Clayton Johnson, Jerome Bixby e Richard Matheson. Um dos pontos mais sensíveis da obra é a versão do clássico de Matheson: Pesadelo a 20.000 Pés. Possivelmente por questões contratuais o conto do próprio autor não pode ser usado no livro e Robert Bloch teve que escrever uma nova versão baseada no roteiro.

Levando em consideração a falta de liberdade criativa o resultado até que não é tão ruim, mas comparado com a história original o conto não passa de uma simples cópia sem vida. O texto de Matheson é forte e carregado de emoções, a nova versão falha ao tentar imitar esses sentimentos sem oferecer nada de novo e relevante ao leitor. Isso acontece de forma similar na novela de Stephen King e Richard Chizmar, A Pequena Caixa de Gwendy, cuja premissa é idêntica ao conto A Caixa (Button, Button) de Richard Matheson. 

Durante a leitura fica óbvia a intenção de Stephen King em homenagear Matheson, que é assumidamente uma de suas maiores influências, o próprio disse em entrevista que ideia flertou com sua mente até ele colocá-la no papel, mas que em determinado ponto, não sabia como continuá-la. É nesse momento que entra a colaboração de Richard Chizmar, o editor da Cemetery Dance deu andamento a história e junto com King acabou concluindo o livro.

O resultado dessa colaboração é uma boa história, com algumas referências ao universo de Stephen King (que não acrescentam nada a narrativa e existem apenas para ligar a trama à Castle Rock) e uma mensagem interessante sobre as ramificações de nossas ações, sejam elas bem intencionadas ou não (que Matheson explora melhor), mas que deixa a sensação amarga após a leitura de que a experiência poderia ter sido ótima. Com o histórico de escrita de Stephen King, não fica difícil imaginar uma abordagem aprofundada do tema se ele estivesse inspirado, o que realmente temos no livro é uma viagem onde Richard Matheson já foi, apenas com um cenário repaginado. Se eu fosse definir o livro em duas expressões elas seriam: falta de inspiração e desleixo narrativo.

Em A Caixa de Richard Matheson, um homem misterioso apresenta a um casal uma caixa com um botão e a possibilidade de ganhar muito dinheiro simplesmente apertando-o, em contrapartida essa ação desencadeará a morte de alguém no mundo, uma pessoa que eles não conhecem e de uma forma que  provavelmente jamais ficarão sabendo. 

Em A Pequena Caixa de Gwendy de King e Chizmar, um misterioso homem de preto, que se apresenta como Richard Ferris (homem de preto, inciais R e F, preciso realmente citar Randall Flagg aqui?),  oferece a jovem Gwendy uma estranha caixa cheia de botões e a possibilidade de mudar sua vida se apertar algum deles, porém essa ação desencadeará cenários destrutivos ao redor do mundo, de uma magnitude que ela não conseguirá ignorar...

A premissa promete, mas narrativa não entrega tudo isso. A sensação de catástrofe iminente, um dos elementos principais do conto de Matheson, não está presente e a própria discussão sobre como nossas ações afetam os outros e o mundo é feita de forma rasa e apressada, em monólogos que mitigam o suspense e criam ramificações que não levam a lugar algum. 

A ambientação em Castle Rock, ponto principal do marketing sobre a obra: "o retorno de Stephen King à Castle Rock", é bem superficial, construída em cima de menções e referências que um leitor que desconheça a obra de King não entenderá, e faz com que o ambiente seja na verdade mais uma "cidadezinha genérica americana de Stephen King" que a Castle Rock de Trocas Macabras e A Zona Morta.

A Pequena Caixa de Gwendy parece mais um prólogo estendido do que seria um grande romance envolvendo a "caixa", mas que ficou apenas na sua introdução, do que propriamente uma história fechada. É como se a trama fosse somente uma peça de algo maior, hipótese que é embasada pelo discurso final do "homem de preto" (você que leu, o que acha?). Pessoalmente prefiro o conto de Richard Matheson.

   
  A Pequena Caixa de Gwendy (2018) | Ficha Técnica 
   Título original: Gwendy's Button Box (2017)
   Autores: Stephen King e Richard Chizmar
   Tradutora: Regiane Winarski
   Editora: Suma
   Páginas: 168
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   Nota: ☠☠☠☠☠☠ (5/10 Caveiras)

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