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Resenha | No Reino do Terror de R. F. Lucchetti


Foi nas histórias em quadrinhos que o terror nacional ganhou espaço, corpo e identidade. A  popularização do gênero  ganhou força em meados da década de 50, uma onda que cresceu nas décadas seguintes, as bancas eram povoadas por dezenas de títulos que traziam histórias de horror de autores nacionais e internacionais, revistas como Seleções de Terror, Histórias do Além, Kripta, Spektro e Pesadelo marcaram época e hoje são grandes raridades. Entre os talentosos autores brasileiros da época um nome em especial se destaca: Rubens Francisco Lucchetti e sua prolífica produção.

No Reino do Terror, publicado em 2001 pela editora Opera Graphica, faz um importante resgate histórico da produção de Rubens Francisco Lucchetti no universo das histórias em quadrinhos. Não apenas por trazer dez de seus roteiros mais macabros ilustrados pelos principais desenhistas com quem colaborou, mas também pela visão intimista e pessoal da entrevista concedida a Marco Aurélio, seu filho e organizador do livro, que presenteia o leitor com uma contextualização da época em que as obras foram produzidas e detalhes da vida do roteirista. 

Além da entrevista, cada história possui uma introdução de Lucchetti explicando inspirações e curiosidades por trás de cada um de seus roteiros. São 144 páginas belamente ilustradas por nomes como Nico Rosso, Rodolfo Zalla, Eugênio Colonnese, Júlio Shimamoto e Flávio Colin. Apesar de ser uma ínfima parte de toda sua obra, as dez histórias presentes em No Reino do Terror, formam um ótimo panorama da grandiosidade e importância de Lucchetti e seu trabalho para a literatura nacional.

Na primeira história Lucchetti faz uma macabra releitura do clássico de Shakespeare, Romeu e Julieta, desenhada por Nico Rosso e publicada originalmente em 1968 na revista Cripta, conhecida por suas histórias em quadrinhos curtas. Na história um casal decide colocar em prática um plano arriscado e indo contra a vontade de suas famílias os dois decidem ficar juntos para todo o sempre... Lucchetti utiliza uma técnica infalível para surpreender o leitor: o clímax e a surpresa da trama estão presentes no último quadrinho da história.

Em Um Crime Mais Que Perfeito Lucchetti aborda a clássica história do triângulo amoroso sob a perspectiva do marido que decide matar sua esposa, desenhada por Nico Rosso e publicada originalmente em 1971 na Revista de Terror, é uma homenagem a Alfred Hitchcock. Na trama um marido coloca em prática o plano perfeito para dar fim ao seu casamento, porém ele não contava com um pequeno detalhe...

Em No Princípio Era o Verbo, desenhada por Nico Rosso e publicada originalmente em 1971 na revista Estórias Adultas, Lucchetti aborda o polêmica do aborto em um história curta, são apenas quatro páginas que contém uma grande carga emocional e incitam uma profunda reflexão.

As histórias de mistério são homenageadas por Lucchetti em Atrás da Porta, desenhada por Nico Rosso e publicada originalmente em 1971 na revista O Samurai. Na trama os herdeiros de um barão se reúnem como urubus ao redor de seu leito de morte, quando ele finalmente atravessa para o além eles são desafiados a passar uma noite na casa velando seu corpo m funeral, para então ter acesso a seu testamento. Porém a cobiça e curiosidade afetará cada um deles e no final apenas um sobrará...

Publicada pela primeira vez em 1972 na Revista de Terror, Era Uma Vez... é uma história fantástica que mergulha no universo das maldições de terras exóticas e distantes. Na trama, desenhada por Nico Rosso, um jovem colecionador de objetos de arte fica obcecado por uma estatueta feminina que esconde segredos além da sua imaginação...

Mulher Diabólica, desenhada por Nico Rosso e publicada originalmente na Revista de Terror em 1972, é uma das melhores e mais surpreendentes histórias de Lucchetti, que dessa vez aborda o tema do triângulo amoroso sob uma perspectiva sobrenatural... Apaixonado pela esposa de seu melhor amigo, Edgar decide levar seu relacionamento às escondidas até o limite: é chegada a hora de matar o marido. O que Edgar não sabe é que sua amante guarda um horripilante segredo e talvez seja tarde demais para voltar atrás...

Em A Única Testemunha, desenhada por Rodolfo Zalla e publicada na revista Calafrio em 1981, Lucchetti cria uma história macabra sobre vingança centrada mais uma vez no tema do triângulo amoroso. Um importante político, após um acidente, passa seus dias presos a uma cadeiras de rodas, até que uma noite sua esposa e seu médico decidem colocar em prática seu plano mortal para poderem ficar juntos. O que eles não esperavam é que a retribuição seria tão rápida e mortal e viria em uma forma tão estranha...

Em Como Matar sua Esposa, desenhada por Eugenio Colonnese e publicada em 1982 na revista Calafrio, Lucchetti traz uma versão sombria e engenhosa do clássico mistério sobre o assassinato entre um casal. A população da cidade começa a se perguntar sobre o desaparecimento da esposa do médico e o motivo dele estar cavando um buraco em seu porão...

Em Virgínia, desenhada por Julio Shimamoto e publicada originalmente na revista Calafrio em 1982, Lucchetti mistura a ciência e o sobrenatural em uma história onde o elixir da juventude é fonte de um terror sem limites. Dois amigos estão reunidos, um deles irá revelar os resultados de sua pesquisa de décadas e um segredo enterrado há mais de trinta anos ressurgirá para assombrar a imaginação de todos...

Na última história, João e Maria, desenhada por Flávio Colin e publicada na revista Calafrio em 1993, Lucchetti habilmente cria uma história de terror no contexto brasileiro, o horror não advém do sobrenatural, mas sim das agruras que somos obrigados a enfrentar no dia-a-dia. João e Maria é uma história de terror, amor e perda. Seu final é cruel e impactante.

  No Reino do Terror (2001) | Ficha Técnica 
   Autor: R. F. Lucchetti
   Organização: Marco Aurélio Lucchetti
   Editora: Opera Graphica
   Páginas: 144 páginas
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   Nota: ☠☠☠☠☠☠☠☠☠ (10/10 Caveiras)

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