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Entrevista com Guy Lyon Playfair, autor de 1977: Enfield


Em parceria com a Darkside Books, o Biblioteca do Terror entrevistou Guy Lyon Playfair, autor de 1977: Enfield. Playfair passou mais de catorze meses pesquisando e documentando o poltergeist de Enfield, o resultado é um dos relatos mais completos sobre um caso do gênero. Nesta entrevista ele falou, entre outras coisas, sobre sua relação com o Brasil, as primeiras impressões sobre Enfield e sua opinião sobre as adaptações da história para o cinema e televisão. Confira: 

Biblioteca do Terror: Em primeiro lugar gostaria de agradecer pela entrevista e a oportunidade aos leitores brasileiros de conhecerem mais sobre um dos autores por trás de 1977: Enfield. Partindo do princípio, como surgiu o seu interesse pelo sobrenatural? A maioria das pessoas que estão envolvidas com a paranormalidade sempre relatam um primeiro contato que foi decisivo para despertar o interesse sobre o tema. Você presenciou algum acontecimento do gênero?

Guy Lyon Playfair: Eu evito usar uma palavra como “sobrenatural”, que significa “além da natureza”. Poltergeists não são “além da natureza”, eles têm sido reportados por pelo menos 500 anos, principalmente por Martin Luther, então acho que já está na hora de eles serem levados a sério. Também evito usar a palavra “paranormal”, que significa apenas “não explicado - ainda”. Minha mãe era um membro da Sociedade de Pesquisa Psíquica (SPR) e eu costumava ler o jornal deles e curtir os artigos sobre fantasmas, apesar de nunca ter visto um.

BdT: Você tem uma ligação bastante íntima com o Brasil, tendo vivido vários anos no país pesquisando sobre a paranormalidade e chegando até a escrever sobre Zé Arigó e Chico Xavier. Qual o fenômeno paranormal que você presenciou em terras brasileiras que te deixou mais impressionado?

GLP: Eu passei 14 anos no Brasil, trabalhando normalmente para Time, Associated Press, Business Week, etc. Eu conheci Chico Xavier e fiquei muito impressionado com ele, e por muitos dos seus primeiros livros, em especial Parnaso de Além-Túmulo. Quanto aos eventos "paranormais", acho todos impressionantes porque me lembram o quanto ainda não sabemos. Talvez os mais impressionantes sejam os incidentes em que objetos sólidos parecem atravessar outros objetos sólidos, como, por exemplo, quando pedras parecem cair pelo teto. 

BdT: 1977: Enfield é considerado um dos relatos mais detalhados sobre um caso de poltergeist, vamos partir do princípio: como você se envolveu no caso de Enfield?

GLP: Eu tive muita sorte. O caso foi tornado público no Daily Mirror um dia ou dois depois que começou, e meu colega da SPR, Maurice Grosse, e eu decidimos cobri-lo até o final. Se soubéssemos que ele duraria 14 meses, poderíamos ter hesitado, mas, felizmente, não o fizemos.

BdT: Qual foi a sua primeira impressão ao entrar na casa? Você poderia falar um pouco sobre os fenômenos que encontrou por lá?

GLP: Minha primeira impressão foi a atmosfera de medo. A família estava aterrorizada e confusa, e você não consegue fingir esse tipo de coisa. Por que você iria fazer isso? Quanto aos fenômenos, eles começaram na minha primeira visita e, em pouco tempo, tive o suficiente para escrever um livro. Eu não consigo quantificar os incidentes - um dia eu decidi que manteria o registro de cada um deles, mas mesmo com um gravador eu achei isso impossível. Naquele mesmo dia, houveram dez incidentes em um minuto. No total, haviam centenas, talvez milhares. Às vezes eles aconteciam mais rápido do que eu conseguia escrever.

BdT: Em 1977: Enfield você se limita a narrar os acontecimentos que presenciou nos meses em que passou pesquisando a família e a casa, mas como em todo caso envolvendo o sobrenatural, surgiram vários céticos criticando a veracidade destes acontecimentos, ainda mais quando foi-se constatado que alguns dos fenômenos eram fingimento das crianças. Qual sua opinião sobre esses comentários? O que você diria para estes céticos?

GLP: Eu tenho compaixão por eles. Essas coisas são difíceis de se acreditar a menos que você tenha visto por conta própria - e ainda assim é difícil de aceitar. Sabíamos que as crianças brincavam com algumas coisas, e que elas sabiam o que nós também sabíamos. Eu não tinha o direito de dizer o que cada um devia fazer dentro de sua própria casa, mas elas sempre admitiram que nós as havíamos flagrado.

BdT: A história de Enfield já foi adaptada várias vezes para televisão e para o cinema, qual sua opinião sobre o tratamento que a ficção deu para a história? Acredita que o sensacionalismo com o qual filmes de terror "baseados em fatos reais" exploram o sobrenatural contribui para o ceticismo nas pessoas ao julgar relatos como 1977: Enfield?

GLP: Sim. A série de TV da Sky, The Enfield Haunting, foi dividida em três partes e diz ter se baseado em meu livro. Em um debate público com o produtor, perguntei por que ele havia deixado de lado todos os melhores incidentes relatados no livro. Sua resposta foi surpreendentemente honesta: “ninguém acreditaria neles”. Ele também admitiu que era muito mais importante que a série “parecesse boa” do que mostrasse o que realmente aconteceu.  Esse é o problema com a TV - está sempre tentando melhorar a vida real. 

BdT: O caso de Enfield voltou a ser tema de discussões em grande parte devido ao lançamento de Invocação do Mal 2, que romantiza a participação do casal Warren na investigação. Você teve algum contato com Ed e Lorraine Warren durante essa investigação?

GLP: Nada além de um breve encontro. Eu não queria ter nada a ver com eles. Eu nunca assisti ao filme, mas vi o trailer, e já foi o suficiente. Ao menos o filme as séries de TV ajudaram a vender muitos livros.

BdT: Você está envolvido ou acompanha alguma pesquisa paranormal atualmente?

GLP: Chega de poltergeists - eles são muito cansativos. No momento eu estou mais interessado em gêmeos e suas experiências de telepatia, que nunca ninguém pesquisou adequadamente.

BdT: Os leitores brasileiros estão empolgados com o lançamento de 1977: Enfield. Gostaria de deixar algum recado?

GLP: Estou feliz por entrar em contato com o Brasil novamente, eu vivi aí por 14 anos e conheci muitas pessoas incríveis - e vários poltergeists excelentes que, por alguma razão muito estranha, são raros em Londres. 

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