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Resenha | 1977: Enfield de Guy Lyon Playfair


Existem várias teorias que tentam explicar porque o cérebro humano é tão fascinado pelo terror. O que motiva alguém a continuar devorando as páginas de um livro que faz seu coração disparar? Ou a assistir a uma cena de filme que lhe embrulha o estômago? Uma das explicações é a adrenalina que essas sensações injetam em nosso sangue, em outras palavras o medo é viciante. Outra explicação vai além e invoca um sentimento primal de sobrevivência: nós vivenciamos essas sensações de horror na ficção como uma espécie de teste preparatório, para que quando formos confrontados com um desafio real, estarmos preparados. Mas jamais iremos enfrentar um vampiro ou um fantasma na vida real, não é?

O principal refúgio que a mente do leitor de terror possui é o pensamento de que todos os horrores descritos naquelas páginas não passam de ficção, nos acostumamos a procurar a origem do sangue falso ou a costura nas costas do monstro, não para acabar com a graça da cena, mas para conseguir dormir em paz à noite. O problema com as histórias baseadas em fatos reais é que esse raciocínio não funciona, histórias como 1977: Enfield transformam a leitura em um desafio. 

O horror não está na descrição dos objetos que se movem sozinhos ou nos sussurros e sons estranhos que preenchem o silêncio de cômodos vazios. Não, o medo está no drama de uma família, tão real e palpável, que tira o sono pela simples percepção de que aquilo poderia acontecer com qualquer um.

1977: Enfield não é uma leitura fácil, possui o tipo de história que ultrapassa as páginas do livro e se instala no fundo da mente, naquele recôndito escuro onde os pesadelos ficam escondidos e que só é acessível à noite, quando você está próximo de ultrapassar a barreira que separa a vigília do sono. Playfair deixa claro em seu prefácio, se você procura uma história que tenha um clímax hollywoodiano este livro não é para você. 

Um fenômeno poltergeist real é mais perturbador que o retratado pelos cinemas, a vida não segue um roteiro, não há nenhum controle sobre como ou quando o sobrenatural vai se manifestar, não existem heróis que aparecem no último minuto para salvar o dia. Por esse motivo a narrativa do livro é bastante irregular, embora o suspense esteja presente desde a primeira página, muitas vezes o capítulo seguinte àquele cheio de ação não mostra nenhuma evolução da manifestação, quando você acha que terá um vislumbre inquestionável de atividade paranormal, ela simplesmente acaba. 

Diferente do que Jay Anson fez em Amityville, Playfair não romantizou a história, não a tornou mais palatável para os leitores, ao contrário, cada acontecimento é detalhado com precisão e exaustão, o sobrenatural nunca é a primeira explicação, cientificamente tenta-se reproduzir cada evento que ocorre em Enfield. Esse cuidado torna o livro ainda mais perturbador.

1977: Enfield não é um livro para ser devorado de uma só vez, sua história é feita para ser desmembrada aos poucos, cada capítulo é um passo em direção ao final de um corredor cheio de portas trancadas, ao leitor é dado apenas um pequeno vislumbre do que há por trás de cada uma delas, só percebemos aquilo que a limitação de nossos sentidos e da tecnologia permitem, deixando a interpretação à cargo das crenças, ou da falta delas, de cada um. 

Isso faz com que a experiência da leitura seja extremamente pessoal, o que a história representa para mim será diferente do que ela representa para você. Enfim, se você gostou de Demonologistas de Gerald Brittle e Exorcismo de Thomas B. Allen encontrará o mesmo prazer sombrio em meio às páginas deste livro. Você terá coragem de abrir as portas de Enfield?

   
  1977: Enfield (2017) | Ficha Técnica 
  Título original: This House Is Haunted (1980)
    Autor: Guy Lyon Playfair
   Tradutora: Giovanna Louise Libralon
   Editora: DarkSide Books
   Páginas: 288 páginas
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   Nota: ☠☠☠☠☠☠☠ (9/10 Caveiras)

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1 Comentários

  1. Eu achei bem legal! Como eu disse na minha resenha, apesar de ter colocado minhas expectativas pra outro lado, o livro me surpreendeu. Achei um pouco devagar demais, mas, qnd a gente se acostuma, a leitura flui mais! *-*

    Adorei o post!

    Abraços.
    Alex, do Um Bookaholic. <3

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