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Resenha | Mestres do Terror #2: Frankenstein


Mestres do Terror é uma das revistas mais importantes da pouco conhecida história dos quadrinhos nacionais de terror, a série clássica foi publicada originalmente pela editora D-Arte em 62 edições mensais/bi/trimensais, além de 4 edições especiais entre 1981 e 1993. Em suas páginas o medo ganhou forma e fertilizou o solo da mente de uma geração de leitores com pesadelos e horrores que intercalavam causos genuinamente brasileiros com histórias protagonizadas por criaturas e monstros famosos do cinema como Drácula, Frankenstein, Lobisomem e Múmia. Seus roteiros e arte eram assinados por grandes mestres do gênero como R. F. Lucchetti, Rodolfo Zalla, Eugênio Collonese, Jayme Cortez, Rodval Matias, Flavio Colin, Ota, Julio Shimamoto, Mozart Couto, entre outros artistas icônicos que também assombravam as páginas da  revista Calafrio, outra famosa publicação de terror da editora da mesma época.

A segunda edição da Mestres do Terror é dedicada a criatura de Frankenstein. A ótima arte de capa de Rodolfo Zalla oferece uma amostra do que o leitor vai encontrar na história "A mansão do Canal das Brumas", roteirizada por Maria Aparecida Godoy, o confronto entre duas versões da criatura: a clássica, baseada no visual de Boris Karloff, e a nova, inspirada na figura de Christopher Lee dos filmes da Hammer. O Doutor Georg Altdorfer está na estalagem de um pequeno vilarejo no interior da Alemanha quando é informado que sua carruagem chegou, ela será conduzida por um cocheiro que lhe garante ajudar a evitar as estradas enlameadas e chegar rapidamente a seu destino. Entretanto ele é surpreendido no meio do caminho, quando o carruagem se afasta da estrada principal e passa a correr à toda velocidade por um caminho íngreme em direção a uma mansão isolada. 

Chegando no local é informado pelos criados de que está na Mansão das Brumas e que a Duquesa de Zweinbruck o espera. Seus temores se tornam reais quando a conversa com a duquesa lhe revela o motivo de seu sequestro: ela está em posse do corpo congelado do "monstro de Frankenstein", conseguido por seu marido, o duque, após o incêndio do castelo do Dr. Frankenstein. Ele passou seus últimos anos estudando a criatura, buscando descobrir seus segredos sem sucesso, pois quem herdou as anotações do Dr. Frankenstein foi ninguém menos que o próprio Doutor Altdorfer. E ele só conseguirá sua liberdade se criar uma nova criatura, a partir do corpo do filho da duquesa! A arte de Zalla é fantástica e traduz com perfeição o clímax caótico e claustrofóbico que o embate entre duas criaturas engendra, aliada a um roteiro que consegue estabelecer uma nova motivação para a criatura estar à solta, resultam em um bom prelúdio para as vindouras aventuras de Frankenstein.

Em "A invenção do Docteur Guillotin" de Jayme Cortez, temos uma história de uma página,  sobre um carrasco parisiense que decide convidar seus amigos para festejar sua centésima decapitação. A comemoração se estende até altas horas da madrugada e quando ele cambaleia bêbado de volta para casa encontra as aparições fantasmagóricas de seus outros noventa e nove decapitados, que decidem participar da comemoração à sua própria maneira sangrenta. 

"A garrafa do diabo!" com argumento e arte de Arellano oferece uma simples e clássica história de encontro com o diabo. Um homem entra em uma loja de antiguidades e se interessa por uma garrafa vermelha, mas o vendedor diz que ela não está à venda. O homem acredita que isso não é verdade, mas sim uma daquelas desculpas esfarrapadas para aumentar o preço do objeto, entretanto o vendedor mantém sua palavra. Sem paciência e de forma totalmente gratuita, o homem toma uma atitude drástica que culminará na pior e última surpresa de sua vida.

A seguir temos um pequeno conto ilustrado: MARICHU de Pio Baroja. Uma mulher é acometida por uma doença nervosa após dar a luz e as pessoas da aldeia onde vive acreditam que ela esteja possuída por demônios ou com mau-olhado. Ela é levada de encontro a um padre, para que seja realizado um exorcismo, o ato não funciona, e então sua última esperança jaz nas mãos de uma velha bruxa. A história parece girar em torno da depressão pós-parto e em como a religião e o misticismo são as únicas perspectivas das pessoas que não tem acesso a nenhuma outra realidade senão aquela cercada pelos mitos sobrenaturais. É um conto triste e trágico que termina oferecendo uma mensagem sobre aceitação e resiliência.

O Morto do Pântano retorna nessa edição com texto e desenhos de Eugênio Colonnese em "O Crime Perfeito". Um casal atravessa velozmente de carro as estradas ao redor de um pântano, algo no clima entre os dois está estranho, com a mulher preocupada pelos motivos de estarem viajando por aquele caminho afastado e pouco conhecido. Ela é milionária e o motorista imprudente é seu novo marido. Mal sabe ela que seu cônjuge preparou uma surpresa horrível como presente de casamento e o pântano é o local escolhido para seu crime perfeito. O que ele não contava é que nas sombras das árvores uma criatura morta lhe observava e também está pronta para cometer a vingança perfeita.

Seguimos para uma aventura do detetive Nico Martim em "O túmulo de Diva Lara!", com texto e desenhos de Arellano. Depois de retornar de uma viagem pela Europa um homem nota estranhas mudanças nos hábitos de sua esposa. Ela se tornou silenciosa e esquisita, desaparecendo todos os dias antes do sol raiar e retornando apenas ao anoitecer. Suas indagações por ajuda terminam na indicação do detetive particular Nico Martim. As investigações logo começam a desvendar um estranho padrão e culminam diretamente no meio de um cemitério num confronto com uma criatura da noite. A história tem seus bons momentos, mas na maior parte é bem previsível.

O mestre R. F. Lucchetti assina o roteiro de "O estranho doutor Jeckil", com arte de Eugênio Colonnese. O carro de uma mulher apresenta problemas em uma região onde várias jovens sumiram misteriosamente sem deixar pistas, ela é observada por duas figuras bizarras que aproveitam a situação para sequestrá-la. Na mesma tarde o carro de Edward Barclay falha na mesma região, decidido a encontrar ajuda ele caminha por entre a mata e dá de cara com uma mansão escondida. Quando bate na porta é atendido por um estranho mordomo e pede para pernoitar no local. O doutor William Jeckil lhe recebe com simpatia, mas a conversa logo é interrompida por um grito feminino, a que ele rapidamente atribui a uma de suas pacientes. À noite uma sucessão de estranhos incidentes captura a curiosidade de Barclay, que fará de tudo para descobrir que segredos escondem a mansão de Jeckil. Lucchetti apresenta mais um roteiro cheio de reviravoltas, a temática do cientista louco é bem explorada, conhecendo o legado histórico do nome do médico ele subverte a narrativa e entrega um final interessante e macabro.

A edição fecha com a seção Mistérios do Mundo, que parecem ser histórias supostamente reais desenhadas pelo Rodolfo Zalla. A história chama-se "O médico e o monstro" e apresenta o causo de um médico parisiense que não conseguiu evitar a morte de um paciente, e por precaução, decidiu não contar o ocorrido para a esposa que sofria de um mal cardíaco. Pouco tempo depois, enquanto sua saúde apresenta um rápido declínio, em uma conversa com o médico ela deixa escapar que o marido parece estar muito melhor nas visitas noturnas que tem lhe feito. O doutor então se prepara para desvendar esse mistério macabro. Uma história simples que se utiliza do vampiro folclórico europeu. 

  Mestres do Terror #2 (1982) | Ficha Técnica 
   História da capa: "Frankenstein em: A mansão do Canal das Brumas" 
   Artistas: Rodolfo Zalla, R. F. Lucchetti, Eugênio Colonnese et al.
   Editora: D-Arte
   Páginas: 48 páginas
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   Nota: ☠☠☠☠☠☠☠☠☠ (7/10 Caveiras)

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