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Resenha | Ghost Story de Peter Straub


Ghost Story de Peter Straub é um gigantesco mosaico de histórias de horror repleto de centenas de referências à cultura popular americana, à mitologia indígena e passagens que são homenagens a autores como Henry James, Edgar Allan Poe, Nathaniel Hawthorne, M. R. James, Ray Bradbury e muitos outros. Publicado originalmente em 1979, Ghost Story é um clássico moderno da literatura de terror e um dos romances do gênero mais importantes do século XX. 

Ghost Story, resumido de uma forma simplista, conta a história de um grupo de pessoas que encontra seres sobrenaturais e acaba despertando sua ira, tendo que enfrentar sua vingança enquanto é sitiado em uma pequena cidade por uma nevasca. O detalhe está na forma complexa como Peter Straub constrói a narrativa de vingança dessas forças sobrenaturais. Seus planos para extrair o máximo de horror e medo de suas vítimas e reunir protagonistas diversos numa data específica, se desenvolve em uma trama que perpassa dezenas de núcleos de personagens, ambientações e épocas distintas, além de histórias dentro de histórias dentro de histórias.

Peter Straub tem uma narrativa não-linear e se utiliza do tempo necessário para contar sua história, é como se ele se sentasse em sua poltrona e olhasse fixo em seus olhos enquanto lentamente começa a descrever os horrores que jazem em sua mente. Isso faz com que na leitura ao invés de devorar páginas, você devore palavras. A história possui um ritmo ágil, mas passa por muitos desvios, contornos e retornos até chegar em seu destino final. 

Nesse contexto todos os personagens e narrativas secundárias se tornam relevantes e importantes para a trama principal. Poucos livros na atualidade usam esse método de construção lenta em suas narrativas, de forma que talvez leitores modernos possam achar o livro desinteressante.  Ghost Story é  na verdade um quebra-cabeça desafiador, a multidão de personagens e a natureza entrelaçada dos enredos dificultam a apreensão total da trama em uma única leitura.  A partir do momento em que você possui todas as respostas para os mistérios, uma experiência diferente com o texto se descortina diante de seus olhos. 

Peter Straub inicia a narrativa de Ghost Story a partir do seu final, com um prólogo misterioso apresenta Don Wanderley e uma garota. O texto nos leva a crer que ele sequestrou a menina. Ela não é sua filha, e embora não faça grandes reclamações e permaneça ao seu lado, há a necessidade de amarrá-la quando param para dormir. A estranheza da situação define o tom da ambientação de todo o texto, você se sente inquieto, a leitura é permeada pela sensação iminente de perigo, de que algo de ruim vai acontecer logo na próxima página. Gradualmente descobrimos que aquela jovem é muito mais do que aparenta ser e para resolver seu mistério a trama volta alguns anos no passado.

O ponto central que une todas as ramificações do texto é a Sociedade Chowder e seus pesadelos. A narrativa se move para trás e para frente no tempo para explorar o passado de cada um dos protagonistas, personagens primariamente ligados à eles e os eventos traumáticos que os levaram a serem assombrados por horríveis imagens à noite. A sociedade é formada por quatro homens idosos que se revezam em suas casas em encontros mensais para compartilhar histórias reais de fantasmas. Essa tradição começou um ano antes, quando o quinto membro morreu em circunstâncias misteriosas durante uma festa. E sua morte despertou fantasmas do passado. 

As histórias de fantasmas são uma espécie de exorcismo para esses sonhos perturbadores, uma tortura auto imposta para eles não enfrentarem segredos há muito enterrados. Mas isso já não é mais o suficiente, quando horrores começam a caminhar por Milburn, a cidade onde vivem desde a infância, eles decidem procurar ajuda. Uma possível salvação jaz na figura do sobrinho do membro falecido, a experiência de um escritor de histórias de terror, seu livro de maior sucesso é baseado em fatos reais, é exatamente o que precisam. Esse homem é ninguém menos que Don Wanderley e sua chegada dá início a uma cadeia de eventos que ameaça não apenas sua vida, mas também a de todos os membros remanescentes da Sociedade Chowder.

A partir daí Ghost Story mostra toda a força e robustez por trás de sua fama. Mutilações de animais, aparições fantasmagóricas, mortes sangrentas e misteriosas e uma estranha e assustadora conexão entre tudo isso. Peter Straub é extremamente calculista em sua escrita, nada de sustos fáceis ou previsíveis, suas descrições evocam um pavor arrepiante que cresce a cada virada de página, revelando lentamente toda a extensão de seus horrores. 

A edição da Darkside, além de corrigir o título antigo "Mortos-Vivos", oferece um texto impecável e ágil. Um dos pontos críticos das edições anteriores eram as traduções literais de algumas palavras e expressões que deixavam a leitura do texto atravancada. Um dos meus momentos favoritos do livro é a homenagem que Straub faz a A Volta do Parafuso de Henry James, um arrepiante conto que se encaixa perfeitamente no seu texto. A cidade de Milburn aparece em mais uma obra de Peter Straub, no romance Koko de 1988 os protagonistas vão até ela para participar do enterro de um personagem importante para a trama. Pelas descrições a cidade não perdeu seu ar interiorano e sombrio.

   
   Ghost Story (2019) | Ficha Técnica 
   Título original: Ghost Story (1979)
   Autor: Peter Straub 
   Tradutora: Regiane Winarski 
   Editora: Darkside
   Páginas: 442 páginas
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   Nota: ☠☠☠☠☠☠☠ (10/10 Caveiras)

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5 Comentários

  1. Eu também tenho essa edição, mas ainda não li.
    Também fiquei muito feliz quando vi que a DarkSide ia relançar esse livro, porque estava muito curioso para saber como ficaria.
    A edição como sempre, é caprichosa, muito bem formatada, e a capa ficou linda, com um toque nostálgico. Outra coisa que a DarkSide fez muito bem, foi optar pelo título original - Ghost Story - ao invés do péssimo título nacional, Os mortos-vivos.
    Mais um lançamento maravilhoso da DarkSide Books.

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  2. Já está na lista das próximas compras!
    Engraçado é ver as resenhas na Amazon, o pessoal reclama do estilo do Straub. Cara, ele é lento, mas e daí? Se for para ler mais do mesmo vou ler Ken Follett ou Dan Brown, que a cada 5 páginas acontece uma reviravolta.
    Li esse livro a mais de 20 anos numa edição acabada do Círculo do Livro e até hoje lembro dos detalhes e da história, muito boa por sinal!

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  3. Já li duas vezes e pretendo reler muitas vezes. É meu preferido do gênero ao lado de It a Coisa.

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    1. Estou no final da terceira vez que leio. Mudei de ideia, pois se tornou isoladamente meu preferido de Terror.

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  4. Sinceramente não gostei da leitura um pouco cansativa as vezes foge muito do assunto desvia muito atenção do leitor e faz com que o leitor se perca varias vezes.😢

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