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Resenha | A Última Noite em Tremore Beach de Mikel Santiago


A Última Noite em Tremore Beach resgata o clima claustrofóbico dos livros de suspense da década de setenta, mesclando a simplicidade de uma narrativa direta e sem rodeios com uma sólida construção de verossimilhança, cria um suspense psicológico  que flerta com o horror. Ao mesmo tempo que possui a agilidade de um thriller, com a tensão borbulhando ao longo das páginas, tem profundidade narrativa o suficiente para fazer com que o leitor seja abarcado pelas emoções e problemas dos protagonistas. 

Mas o diferencial do autor também é o ponto mais sensível de sua trama: o sobrenatural, ou melhor, a maneira como o sobrenatural é encaixado na trilha de acontecimentos. A narrativa de Mikel Santigo é comparada a de Stephen King e essa similaridade é bem visível na questão de que ambos são exímios narradores de dramas humanos, principalmente os de personagens comuns subitamente inseridos em situações fantásticas, cujo horror advém de pesadelos que ultrapassam a linha divisória da existência imaginária e se tornam uma ameaça real. 

O livro conta a estória de Peter Harper, um músico talentoso que após enfrentar problemas pessoais e sofrer com bloqueio criativo se isola em um pequeno vilarejo irlandês e aluga uma bela casa à beira-mar em Tremore Beach. Um dia retornando de um jantar no chalé de amigos, durante uma tempestade, ele é atingido em cheio por um raio, sem grandes ferimentos físicos, Peter tem que enfrentar como sequelas do acidente fortes dores de cabeça e pesadelos assustadores que o perseguem até mesmo quando está acordado.

Esses sonhos são permeados de mortes sangrentas, sempre de familiares e entes queridos. Há uma certa urgência naquelas visões e Peter tem que correr contra o tempo para descobrir o que elas significam e manter intacta a própria sanidade. A construção do clima de tensão dessas visões é angustiante, a sensação de não saber se o que está acontecendo é real ou fantasia aliada ao mistério crescente acerca do motivo de Peter estar vivenciando aquelas cenas, impulsiona o leitor a devorar as páginas. Dá para sentir que algo sobrenatural está agindo em Tremore Beach e a curiosidade é uma corrente que prende o leitor à trama.

Mas em determinado ponto essa sensação vai perdendo força até o momento em que uma explicação fajuta, construída em cima de fatos que o leitor não tinha como saber até então, coloca o sobrenatural em segundo plano e transforma a história em um dramalhão. A explicação para a motivação do que acontece nas visões é forçada e isso faz com que a trama perca um pouco de sua força na reta final da leitura, apesar de que a conclusão entrega a explosão de suspense e violência que a primeira metade do livro promete, mas é um final que deixa aquele gosto amargo na boca após a leitura. 

Mikel Santiago peca em querer explicar cada detalhe de sua história e sua predileção por verossimilhança destrói aquele clima fantástico que instigava a leitura no início. A Última Noite em Tremore Beach é um bom livro, uma leitura que diverte e cumpre seu papel de entreter o leitor, mas fica aquela sensação de que poderia ter sido ótimo se o autor tivesse abraçado o sobrenatural e seus mistérios sem ter medo do resultado final.

   A Última Noite em Tremore Beach (2017) | Ficha Técnica 
   Título original: La ultima noche en Tremore Beach (2014)
    Autor: Josh Malerman
   Tradutores:  Paulina Wacht e Ari Roitman 
   Editora: Suma
   Páginas: 272 páginas
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   Nota: ☠☠☠☠☠☠☠☠☠☠ (7/10 Caveiras)

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