“Os mortos têm suas estradas. Por elas transitam filas constantes de
trens-fantasmas, carruagens de sonhos, atravessando a terra árida atrás das
nossas vidas, com o tráfego infindável das almas que partiram. Seu ritmo
monótono e pulsante pode ser ouvido nos lugares devastados do mundo, através de
fendas produzidas por atos de crueldade, violência e depravação. Sua carga, os
mortos errantes, pode ser vista de relance quando o coração está a ponto de
explodir, e visões que deviam estar ocultas surgem definidas.”
Opinião:
Clive Barker escreveu seu nome
como um dos mais proeminentes escritores de horror de todos os tempos através
de seus contos publicados no seis volumes dos assustadores Livros de Sangue. Os
contos são feitos de uma matéria arenosa que engole o leitor, em toda sua
glória e horror, sugando-o para o seu âmago sombrio e pútrido, onde não há luz
e não há escuridão, apenas um limbo atemporal onde seres monstruosos e
demonÃacos vivem uma espécie de sobrevida aguardando apenas uma brecha na
realidade para invadir o mundo humano.
Barker escreve sobre o medo como ninguém, nada de causar suspense com a
questão de se existe ou não um monstro atrás da porta, escreve sobre o pavor,
aquela sensação de horror que cresce dentro do estomago e reflete em fezes e
urina. O desconforto que se sente com as cenas explicitas e gore de Livros de
Sangue é a mesma de ter seu cérebro moÃdo em liquidificador e o prazer que
advém disso é como um orgasmo em um harém de súcubos.
O Filho do Celuloide: Clive
Barker se utiliza de antigo cinema para tecer a ilusão através das pelÃculas de
cinema. Quando a heroÃna morre durante o combate final arrancando lágrimas da plateia,
quando a madrasta maltrata a inocente enteada, quando a bela atriz é adorada
pelos olhos masculinos, quando o monstro faz sua primeira vÃtima, enfim todas
as reações emocionais da plateia são que dão vida ao cinema. O sorriso, a
felicidade, a raiva, o ódio, a tristeza, a adoração, são sentimentos que os
filmes obtém de seus expectadores e que define seu sucesso ou esquecimento. O celuloide
se alimenta dessas emoções e as ilusões precisam delas para existir, mas quando
o cinema entra em decadência e a plateia já não se envolve tanto quanto
antigamente e quando um catalisador maligno surge às ilusões ganham vida. O
resultado é monstro amoral que busca adoração para existir, sua forma pútrida e
horrÃvel fica escondida atrás das belas atrizes e cenas marcantes, mas no fim
seu objetivo sempre é o mesmo, arrancar seus olhos e devorar seu corpo.
Cabeça Descarnada: Cabeça
Descarnada é um antigo deus pagão que vivia em reinado sangrento de mortes e
mutilações até que um grupo de religiosos conseguiu aprisioná-lo embaixo de uma
grandiosa pedra que serviria como túmulo para o mal desde que ficasse
inviolável, se a pedra fosse retirada o horror renasceria. O segredo foi
passado de geração em geração através dos séculos e a propriedade em que o
monstro foi enterrado foi abandonada e deixada à sorte da natureza, isso até os
dias de hoje quando um jovem fazendeiro decide utilizar aquele grande pedaço
fértil de terra para ampliar sua plantação. É a primeira vÃtima cruelmente
brutalizada pelo antigo deus que arranca sua cabeça enquanto se banha em seu sangue. Deu origem ao filme Rawhead Rex, como é chamado no Brasil Monster: A Ressureição do Mal.
Confissões da mortalha (de um
pornógrafo): Um contador sem querer acaba descobrindo a verdade sórdida sobre
seus patrões, eles são distribuidores de pornografia, não as que as bancas vendem
as realmente pesadas envolvendo torturas e animais. Ele fica horrorizado e
discute com os chefões que o ameaçam por seu silencio. Dias depois os jornais
também descobrem o local de podridão moral onde as revistas ficavam, mas não há
nada que possa ser associado a seus patrões, ao contrário, as provas apontam
para ele como único responsável pela pornografia. O que se segue é o relato da
mais fria e cruel vingança já orquestrada. Quando destroem a realidade por trás
da existência de um homem normal o que sobra é o animal na luta pela sobrevivência.
Um pequeno detalhe a história é contada por um fantasma.
Bodes
Expiatórios: Navegando pelo mar durante um nevoeiro um grupo de jovens acaba
encalhando em uma ilha no meio do nada, formada apenas por rochas não está
presente em nenhum dos mapas que possuem a bordo. Quando decidem explorar o
local, enquanto aguardam a maré subir, descobrem que a ilha é desabitada, porém
há algo estranho, em meio às rochas há um pequeno cercado com algumas ovelhas e
bodes de aspecto decrépito. O que descobrem a seguir é que aquilo é uma espécie
de oferenda a uma criatura muito antiga e que seu naufrágio não foi tão
acidente assim, afinal mÃseros sacrifÃcios animais não aplacam a ira desse ser
cruel, na verdade servem como aperitivo. E Por último Restos Humanos uma sátira
ao pensamento narcisista com um protagonista à lá Dorian Gray que encontra uma
criatura que pode reproduzir sua imagem com perfeição.
Minha nota: ☠☠☠☠☠☠☠☠☠☠ (10/10 Caveiras)
Gostei muito do seu blog. Seguindo... segue o meu !
ResponderExcluirMuito bom este livro de contos. Achei o conto Cabeça Descarnada bem impactante.
ResponderExcluirMaurilei.
Já estou concluindo o 5º livro da serie e ate agora o melhor foi o 3º mesmo. 10 caveiras com merito.
ResponderExcluircomo faço pra ler os livros?
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