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Resenha | Carrie, a estranha de Stephen King


Carrie é o primeiro livro de Stephen King. Carregado de toda a paixão e imaturidade do início da sua carreira, um momento em que Richard Bachman ainda não havia sido criado mas dava pequenos lapsos de sua possível existência, aliados ao talento nato para criar narrativas envolventes fez de Carrie um sucesso explosivo, logo transformado em longa-metragem por Brian De Palma consagrando assim o jovem Stephen King e dando inicio a lenda.

Com menos de duzentas páginas Carrie se tornou um clássico pela inovação e novo fôlego que deu ao suspense, King trouxe uma protagonista adolescente problemática e com poderes sobrenaturais, desde o início do livro fica claro que algo muito terrível aconteceu no Baile de Formatura e entre relatos pessoais de sobreviventes, narrativas em terceira pessoa e recortes de livros que posteriormente surgiram para tentar dissecar os acontecimentos do fatídico dia o suspense e o mistério são criados pouco a pouco, se alimentando das emoções do leitor que passa a torcer por um final feliz. Após isso nasceram os fãs King, divididos entre amor e ódio para com aquele autor novato descobriram-se viciados naqueles sentimentos... E passaram a desejar cada vez mais, mais, mais...

Faz parte para mim de uma dualidade de livros do King que explora as ramificações que ocorrem quando um adolescente retraído socialmente e fonte de chacotas consegue algum tipo de poder sobrenatural e busca vingança através da morte. Christine explora o lado masculino através de Arnie Cunnigham e seu carro possuído enquanto Carrie se foca na protagonista com telecinese, ambos tratam do difícil período escolar onde psique humana é alterada profundamente pelas experiências que ocorrem lá, sejam elas positivas como as amizades e a primeira paixão ou negativas como o bullying. 

Só que Carrie sofre muito mais que Arnie, enquanto os homens preferem exercer controle entre os mais fracos pela força bruta as mulheres se utilizam de sutilezas mais profundas envolvendo uma violência psicológica e mental mais destruidora e dolorosa que qualquer soco no rosto. O livro escrito na década de setenta ainda permanece atual abordando o problema da violência escolar, tema que intriga e mexe com muitos adultos seja por alcançar aquele nervo dolorido da vergonha ou a queimação da culpa. Toda escola tem sua cota de alunos assim, tímidos porém inteligente que passam invisíveis pelos corredores, com suas roupas estranhas e óculos sempre escorregando do nariz são as vitimas preferidas dos valentões que parecem farejar o medo.

Com uma criação severa baseada em princípios teológicos obsessivos Carrie teve que suportar todo tipo de privação através da sua mãe. Margareth White, uma mulher presa a seus próprios demônios, se considerava uma pecadora por ter caído na tentação do sexo e passa a vida tentando expurgar-se do ocorrido muitas vezes descontando no fruto de seu pecado sua frustração e raiva. Sua casa era repleta de imagens que faziam referência a Bíblia, porém o Deus que se apresentava nas gravuras era o vingativo do Antigo Testamento causando a destruição e condenando os pecadores de Sodoma, causando Dilúvios, inflando a ira de Moisés ao descobrir seus seguidores adorando falsos ídolos. 

A mais marcantes dessas imagens era uma grandiosa cruz de mais um metro e meio que trazia a estátua de Cristo em todo o esplendor de seu sofrimento. Foi nessa casa que Carrie cresceu. King aborda de maneira bastante inteligente a demência religiosa em Carrie, mais tarde no seu conto O Nevoeiro o tema surgiria novamente, que mesmo tendo consciência do que o que a mãe diz não é totalmente verdade não consegue impedir sua mente de ter pequenos ataques de insanidade regados ao som da voz da consciência, que era parecida com a de Margareth.

A estória começa em um dia normal após a aula de educação física e as meninas estão todas tomando banho nos chuveiros comunitários da escola. Todas gritam e conversam sobre garotos com o som da ducha ao fundo, Carrie está no meio delas apática ao que se passa em seu redor apenas fica parada em baixo da água, silenciosa aproveitando o momento de paz. Desligado os chuveiros toalhas brancas tomam conta do lugar e abafam o som das vozes, porém um grito e um dedo apontado na sua direção desvia a atenção de todos. 

Um filete de sangue escorre pelas suas pernas. Gargalhadas e cruéis gritos de REgra! REgra! seguem-se a isso. Carrie sente infinitamente mal, quer desaparecer do mundo e deixar todas aquelas pessoas más para trás, aos poucos suas pernas se dobram e seu corpo escorrega para o chão em busca de uma posição melhor para se defender das chacotas. E pior era que ela nem sabia o que estava acontecendo. O medo e a vergonha acompanharam sua primeira menstruação aos 16 anos.

Esse acontecimento serve como estopim para seus poderes sobrenaturais. Não que eles nunca tenham se evidenciado antes há várias descrições de situações estranhas envolvendo a menina, desde lâmpadas estourando, passando por portas e janelas batendo sozinhas a até uma chuva de pedras focada em sua casa. Desde o inicio Carrie descobre que não é igual aos outros e começa a testar seus poderes que crescem na mesma medida que ela os utiliza discretamente. 

A vingança nunca foi algo desejado pela adorável Carrie, mesmo sofrendo horrores ela compreendia que um dia isso passaria, mas a crueldade humana não possui limites. Os acontecimentos do vestiário ficaram impressos tanto na mente dela quanto das perpetuadoras dos atos terríveis que sofreram punições pelo ocorrido, uma delas criou um ódio particular por Carrie e sua sede de maldade ultrapassa os níveis normais, buscando atingir antes do final das aulas uma espécie de vingança contra o castigo. E o baile de formatura apresenta a situação perfeita para isso. Stephen King segundo as lendas escreveu a primeira versão de Carrie e odiou o rascunho jogando-o no lixo, foi sua mulher Thabita que o recuperou e após uma leitura mostrou o quanto gostou do que havia escrito lá. King rescreveu tudo dessa vez criando a obra clássica em si, uma passagem curiosa é uma entrevista de uma das fictícias revistas do livro que traz a opinião do professor de inglês de Carrie, o senhor Edwin King. 

Para quem não sabe, King é professor de inglês e essa era sua ocupação na época além de que seu nome do meio é Edwin. Tenho duas edições do livro, uma da década de oitenta e a nova com a capa do filme, tenho que parabenizar a Editora Suma de Letras por seu trabalho que prima a qualidade ao leitor, desde as páginas numa cor mais aceitável aos olhos para leitura até a nova tradução que tornou a narrativa mais ágil e mais encantadora para os novos leitores.

Muitos eufemismos foram utilizados na nova tradução, por exemplo: as estudantes ao invés de gritaram Regra e Tampa agora falam Incomodo e Arrolha, algumas outras modificações melhoraram a fluidez do texto, mas mesmo assim senti que algo característico do autor foi perdido, uma certa malícia como a inscrição de uma carteira na escola que de "Carrie come bosta" passou a um infantil "Carrie come cocô". Acredito que fãs que cresceram lendo as edições de livros das décadas passadas, num tempo onde a censura agia com pouca força sentirão falta de termos típicos do autor como “cara de cona”, apesar disso a nova edição está esteticamente melhor. Um livro de leitura obrigatória a fãs de terror e do mestre Stephen King.

   
  Carrie, a estranha (1974) | Ficha Técnica 
   Título original: Carrie (1974)
   Autor: Stephen King
   Tradutora: Erika R. Engert Rizzo
   Editora: Nova Fronteira
   Páginas: 190 páginas
   CompreAmazon
   Nota: ☠☠☠☠☠☠☠ (10/10 Caveiras)

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20 Comentários

  1. O remake passou nessa 6ª feira no SBT. Aliás, foi a 1ª vez que vi o início do filme. Nas outras vezes que peguei já tinha começado.
    O livro ainda não tive a oportunidade de ler.

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    1. O livro é muito melhor que as adaptações, assisti as duas primeira versões e embora a de Brian de Palma seja melhor o remake foi bem mais fiel, pena que foi feito com pouco orçamento poderia ter sido bem melhor

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  2. Muito boa a tua resenha!!! Adorei teu blog Parabéns!!!
    http://malucasporliterstura.blogspot.com.br/

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  3. Excelente resenha. Sem dúvida "Carrie" é um dos grandes clássicos do horror. Apesar de ainda não ter lido o livro - coisa que pretendo fazer o mais rápido possível - , sou apaixonado por suas versões cinematográficas. Realmente King faz jus ao seu sobrenome, mas para mim sua melhor obra continua sendo "O Iluminado". Não sei se foi por conta desse ser o primeiro livro do King que li, mas tenho um carinho maior por esse obra.

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    1. Obrigado pela visita! Cara eu também sou apaixonado pelo Iluminado, foi o primeiro livro do King que li além de ser o que me despertou para a literatura e refinou meu gosto para o terror. Estou muito empolgado com essa continuação escrita pelo mestre: Doctor Sleep, parece ser magnifica contando os dias para o lançamento da tradução ;)

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  4. Apesar de não gostar muito desse gênero, eu assisti ao filme e já me interessei pelo livro. Muito boa a resenha, parabéns ^.^

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  5. Excelente resenha. Carrie não foi o primeiro livro do mestre que eu li (o primeiro foi 'O Cemitério', uma espécie diferente de terror), mas foi um dos que mais gostei. Na realidade, acabamos torcendo por Carrie... Acho muito bem explorado o bullyng na história, por conta das experiências que ela vive na escola. Só quem passa por isso tem noção do que é... E também acho muito legal a figura do fanático religioso, personalizado pela mãe de Carrie. Quando os amigos de escola a veem indo embora, mal imaginam o que ela sofre em casa. Então nos faz pensar o cuidado que temos que ter ao lidar com pessoas, pois não sabemos os problemas que elas trazem ! Também gostei do novo remake que fizeram... muuuuuito melhor do que a versão exibida pelo SBT. Achei o novo filme muito fiel ao livro, e isso é legal para os fãs de King !

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  6. Recentemente assisti o filme (versão de 2002) e gostei bastante, apesar de não ser muito fã do gênero ^^' Após ver o filme, fiquei com imensa vontade de ler o livro.
    Parabéns pela resenha e obrigada pela dica de leitura.
    Beijinhos
    Isabelle - http://attraverso-le-pagine.blogspot.com.br/

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  7. Nunca li Carrie, a Estranha. E o filme que assisti, assisti quase no final. Mas me interessei muito depois de ler sua resenha e gosto desse tipo de livro, sem contar que King é um gênio do terror. Estou muito ansiosa para ler, parece muito bom. Sua resenha está ótima, parabéns.

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  8. Pra começar, foi por meio de uma mensagem na rede Skoob que eu conheci o blog. Nessa mensagem havia o link desta resenha, e fico feliz em dizer que foi por causa dela que resolvi que leria essa grande obra do Mestre do Terror. A princípio eu não havia dado atenção ao livro, mas por causa da resenha acabei criando um gosto pela história mesmo antes de tê-la lido.
    Quero, portanto, elogiar a resenha, que foi muito bem feita, e agradecer por ter me convencido a ler esta obra.
    Abraços, e espero que possa contar com seu blog pra encontrar mais livros que eu goste e que venham a me fascinar.

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  9. Eu estou devendo a leitura. Gostei muito da resenha, me empolgando ainda mais. Já assisti todas as versões. Com a de Brian DePalma é clássico, não há questionamentos.Dentre as versões mais recentes, sem sobras de dúvidas o deste ano foi muito bom. Parabéns pela resenha Annubis.

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  10. Eita Rafa partilhamos da mesma adoração por Carrie e pelo mestre Stephen King, um terror psicológico tão bem escrito que é válido até hoje em todas as suas nuances. Assisti ontem o novo remake e tenho que dizer que gostei, foi bom ver o que uma garota como Carrie poderia sofrer e fazer nos dias de hoje, nesta versão Carrie está mais corajosa e possui forças para enfrentar sua mãe, e que mãe viu, nossa chega da medo de ter uma mãe louca como essa. Vale apena conferir o filme, claro que não é 100% mas tem algumas cenas que realmente me chamaram a atenção.

    Abraço,
    Diego de França
    leitorsagaz.blogspot.com.br

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  11. Sua resenha ficou excelente! Parabéns. Vim aqui por causa de um link do Skoob e não me arrependi. O livro é fantástico, nos envolve e nos deixa cativos à obra.
    King realmente é o mestre.

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  12. Ainda não li esse... Mas está na minha lista adoro Stephen King, estou lendo "O Iluminado" é ótimo!

    Aproveitando a visita quero dizer também que coloquei o blog nos meus parceiros ok se puderem retribuir eu agradeceria muito beijos!

    http://priscilila.blogspot.com.br/

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  13. Este comentário foi removido pelo autor.

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  14. Ta de parabéns pelo blog, viu?! Muito bom mesmo! Adoro esse tipo de literaruta. Assim como vi em muitos comentários acima, O Iluminado é meu bebê! Mas sou alucinada com Carrie e Canção de Susannah. Acho o King um puta escritor. Espero ler sobre mais alguns favoritos no seu blog... Sucesso

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  15. Excelente resenha. Parabéns! Esse foi o terceiro ou quarto livro do King que li. O primeiro foi A Incendiária, depois A Coisa... Quando cheguei nesse já estava totalmente cativa por seu estilo. Ele é, disparado, meu autor favorito. Carrie não é meu livro preferido, mas chega quase lá e sua resenha me fez repensar sobre ele e me fez acrescentá-lo a minha lista de releituras =)

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  16. Mais uma excelente resenha. Este livro é ótimo, fiquei tão empolgado que li em um dia só. Concordo com sua nota Rafa, 10 caveiras. Maurilei.

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  17. Nossa, eu sempre subestimei o livro...até que li!! Gostei bastante, ele passa longe de apenas um universo teen em meio ao bullying, incrível mesmo!!

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