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Resenha | Belas Adormecidas de Stephen King e Owen King


Belas Adormecidas é um livro diferente das obras habituais de Stephen King e grande parte disso se deve a parceria com Owen. Pai e filho, nas entrevistas de lançamento do livro, esclareceram sobre o processo de escrita, para dar uniformidade a voz narrativa, cada um escrevia um pedaço da estória e em seguida passava o manuscrito para o outro. Por exemplo, se fosse Stephen quem tivesse escrito as últimas vinte e cinco páginas, Owen as reescreveria e adicionaria mais vinte e cinco e vice-versa. Outra arma para mesclar os estilos foi a utilização de seções em branco em pontos chaves da narrativa, o clímax da cena que um escrevia era completado pelo outro e isso, adicionado a dezenas de revisões, fez com que se  chegasse ao ponto de que ninguém mais distinguia quem escreveu o quê.

Este processo criou um estilo único, ao mesmo tempo que é um livro de Stephen King, há elementos na trama que comprovam isso, a forma de contar a história não é a característica dele, a adição do estilo narrativo de Owen cria uma terceira voz que traz consigo ecos da narração detalhista de Peter Straub. Outro ponto com grande impacto na narrativa é que Belas Adormecidas seria originalmente uma série de televisão, os roteiros dos dois primeiros episódios deram origem ao que acontece nas primeiras duzentas páginas, e como resultado temos uma trama repleta de protagonistas, núcleos de ação e dezenas de histórias paralelas que vão se unindo ao longo das páginas.

E se todas as mulheres do mundo fossem dormir e não acordassem mais? Belas Adormecidas explora essa premissa apocalíptica a partir da perspectiva dos moradores de uma pequena cidade americana. Sem nenhuma explicação as mulheres caem em um sono profundo e são envoltas por uma espécie de casulo, quando alguém tenta removê-lo elas acordam em um furor assassino, matando todos que encontram pela frente, e depois retornam a dormir como se nada tivesse acontecido. Os Kings exploram o efeito desse acontecimento em protagonistas de ambos os sexos para falar temas centrais de discussões modernas como machismo, feminismo, utilização de drogas, além de dissecar a mudança de valores que  ocorre  com as pessoas em situações limite.

Belas Adormecidas apresenta um ritmo bastante irregular em sua narrativa, principalmente a partir da segunda metade quando um núcleo narrativo diferente é inserido, os autores acertam na caracterização dos personagens, desde a criação dos complexos protagonistas até os estereótipos secundários que servem de comparação com os mesmos. Diferente de Dança da Morte não existe neste livro um vilão no qual o mal se materializa, os próprios homens e suas diferentes perspectivas do acontecimento são os geradores de conflito e até a motivação mais ignóbil é fundamentada, o que faz com que o leitor, mesmo não aprovando certas ações, entenda porque determinado personagem agiu daquele modo.  

Por outro lado Stephen e Owen King não conseguem fazer o que Joe Hill fez com excelência em Mestre das Chamas,  que é retirar o foco do pressuposto da premissa, neste caso o "motivo das mulheres estarem adormecendo", e ao longo das páginas trazer a questão da sobrevivência como ponto principal, o que proporcionaria um desfecho mais satisfatório. O que acontece em Belas Adormecidas é um foco exagerado na criação do mistério ao redor da premissa, que adquire um tom cíclico conforme é "cozinhada" ao longo das páginas, gerando a falta de novos desdobramentos que prejudica o texto. Os autores até tentam inserir uma ameaça bastante similar aos "exércitos da cremação" de Joe Hill, mas que é simplesmente abandonada em determinado ponto da estória.  

Como resultado temos um bom livro, Belas Adormecidas se encaixa no padrão de entretenimento e diversão que Stephen King está acostumado a fornecer, porém não traz nenhum elemento novo aquilo que já conhecemos em sua obra, mesmo a própria  abordagem apocalíptica e claustrofóbica foi melhor executada em Dança da Morte, Sob a Redoma e Celular. O destaque está nas discussões que a obra se dispõe a suscitar, Stephen e Owen conseguem criar ótimos momentos que com certeza farão você pensar em algumas ações simples do dia-a-dia e seus reflexos no próximo. 

   
  Belas Adormecidas (2017) | Ficha Técnica 
   Título original: Sleeping Beauties (2017)
   Autores: Stephen King e Owen King
   Tradutor: Regiane Winarski 
   Editora: Suma
   Páginas: 728 páginas
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   Nota: ☠☠☠☠☠☠☠ (7/10 Caveiras)

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1 Comentários

  1. A premissa achei boa, mas dos mais de 50 lidos do King esse está entre os que menos gostei. Achei massante, e por isso não me prendeu.

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