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Resenha | Amém de Arthur Chrispin


O amanhecer de um famoso bairro do Rio de Janeiro adquire tons carmins de violência quando um cadáver é encontrado amarrado em um poste de iluminação pública. O horror não  está apenas na expressão de medo imortalizada no rosto da vítima, mas sim na aparente causa da morte: o corpo jaz cravejado de flechas. A pose é uma óbvia referência ao santo católico, São Sebastião, o mártir que se negou a abdicar de sua fé e foi condenado a execução por meio de flechas. Também não é nenhuma coincidência que aquele dia em especial seja o dia escolhido pela Igreja para celebrar honrarias ao referido santo. 

Como sempre a mídia transforma a cena do crime em um espetáculo macabro e se desdobra para conseguir o ângulo mais sangrento para deleite de seus mórbidos expectadores, especialistas são convocados para dar seu parecer, hipóteses nascem e morrem na fração de segundo de um apertar do botão de controle remoto. Logo o medo e a euforia da cobertura do crime infectam a população. Todos querem respostas, um culpado, segurança. O ano de eleição de aproxima, os governantes precisam mostrar serviço ou não manterão seus cargos. É preciso escolher os melhores para esta investigação.

A corrupção não é apenas um mal que corrói o coração político nacional, seus tentáculos pegajosos de sedução estão em todas as esferas de poder e isso incluí até mesmo a força de segurança, a polícia. Mas ainda existem bastiões de esperança, pequena flores de retidão que crescem no solo pútrido do sistema público, e negam-se a deixar corromper por toda a sujeira que os cerca. Um pequeno grupo da Delegacia de Homicídios é conhecido pela sua honestidade, alcunhados o "bonde do crediário" são mais que colegas de corporação, são uma família. E é em suas mãos que fica a investigação do assassinato. 

Se não bastasse a pressão política para a resolução do caso, surgem fontes externas de preocupação, a vítima é irmão do chefe do tráfico de um dos mais importantes morros cariocas, que inicia uma caçada própria em busca de vingança. Mas é quando surge outro crime ligado a referências religiosas, que a grande revelação ocorre. Há um serial-killer agindo nas ruas do coração carioca e ninguém está livre de ser a próxima vítima. 

Arthur Chrispin se imiscui pelas páginas policiais para criar um livro instigante, que mescla a tensão de uma estória de serial-killer com um cenário autenticamente brasileiro, fugindo  do modelo americanizado de suspense policial ao se utilizar da realidade nacional para criar um romance completamente factível. A narrativa é bastante ágil, as cenas de violência e suas respectivas descrições são bem estruturadas, assim como a construção dos personagens, suas relações e suas evoluções ao longo do texto. 

Em poucas páginas o leitor é inserido na estória e instigado a perseguir o assassino ao lado do protagonista, desvendando as pistas deixadas pelo assassino e pelo próprio autor nas entrelinhas, que o guiam através de um labirinto de deduções. Porém a identidade do do assassino não me surpreendeu, mesmo com todo o jogo de sombras e ilusões criado pelo autor, antes da metade do livro eu já sabia quem era,  mas não conhecia o por que. Mesmo assim fui totalmente surpreendido pela brutalidade poética do final. 

Chrispin dosa a violência com precisão cirúrgica o livro todo, mas nas páginas finais há uma overdose inebriante de sensações que é quase impossível descrever, simplesmente fiquei de queixo caído após ler a linha final.  Amém é o tipo de livro nacional feito em medida para ser exportado, não traz apenas uma boa estória, mas também exalta a cultura nacional, como por exemplo, a dualidade das religiões católica e umbandista e as ótimas cenas que acontecem em pleno carnaval carioca. O resultado é um livro nacional acima da média, com um bom desenvolvimento e um final arrepiante.

   
  Amém (2015) | Ficha Técnica 
   Autor: Arthur Chrispin
   Editora: 5w
   Páginas: 304 páginas
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   Nota: ☠☠☠☠☠☠☠ (9/10 Caveiras)

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2 Comentários

  1. Olá Rafa, esse livro tem um quê de macabro!
    Resenha como sempre ótima, me fez conhecer autor e livro, e claro, me deu uma vontade louca de lê-lo. Temática interessante e aparentemente bem construída.

    Abraços,

    Leitor Noturno e Coisas de Um Leitor

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  2. Caraca, preciso ler este urgente!


    "Você pode tirar o garoto do fogo do inferno, mas não o fogo do inferno do garoto" (Desespero)

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