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Resenha | O Corte de Donald E. Westlake


Existem livros que conseguem penetrar no âmago do leitor, como uma faca atravessando a pele rumo à alvura do osso, e deixar marcas permanentes após a leitura, pois os temas abordados são tão profundamente pessoais, que a conexão empática com o protagonista é tão natural quanto respirar. O Corte é esse tipo de livro. 

Um livro que fica preso na garganta como um espinho de peixe incomodando, pois força a questionamentos que abalam a estrutura e sanidade de qualquer um, Donald E. Westlake cria um serial-killer que é o retrato da classe média trabalhadora e que por desespero acaba nesta condição, com uma narrativa sútil e pessoal desconstrói a linha que separa a maldade da bondade e o reflexo disso é um livro assustador. Assustador porque te dá ideias...

Stephen King indicou o livro em Sobre a Escrita, como leitura obrigatória para novos escritores, em termos narrativos o livro é sensacional. A escrita produz a sensação de que a história está acontecendo no exato momento em que você está lendo, e que se a leitura for interrompida os protagonistas continuarão seu caminho sem você. 

Há uma crescente tensão nas páginas, após um começo bastante normal, o primeiro ato de violência choca não pela sua brutalidade ou descrição, mas pela maneira como é exposto, sendo o reflexo de uma mente desesperada de um pai e marido de família em busca de emprego para manter seu lar. Não é difícil se imaginar no lugar dele. 

O autor conduz a trama com propriedade, uma dose de drama aqui, suspense ali, arrepios de tensão mais a frente, um encontro com a policia para deixar as coisas mais tensas ainda, um modus operandi alterado, um pouco de compaixão, uma pitada de ódio, um arroubo de paixão, cenas emocionantes, cenas de cortar o coração e assim por diante, formando um mosaico extremamente realista da classe média americana e seus sonhos. 

Burke Devore era um empregado exemplar, anos de devoção à empresa lhe renderam o cargo de gerente em uma linha de produção de papel especial, sua vida caminhava para uma aposentadoria segura e controlada, porém a economia entrando em recessão e os próprios donos de empresas com medo de perder tudo lhe tiraram essa paz. 

A empresa em que trabalhava foi vendida a um grupo de investidores estrangeiros que como primeira atitude pata controlar gastos foi uma grandiosa demissão em massa, e adivinhe quem estava entre os premiados? A raiva lentamente deu lugar a uma espécie de aceitação, afinal com auxilio do seguro desemprego Burke esperava não demorar muitos meses para conseguir uma nova colocação no mercado de trabalho, aliás, quem sabe até algo melhor? Mas as demissões em massa não eram um efeito isolado e sim reflexo de uma sociedade em declínio, não era apenas ele que estava começando a ficar desesperado por emprego, mas um grandioso batalhão de homens, alguns dos quais com mais experiência que ele próprio.

Então as entrevistas de empregos começam. Entrevistadores ignorantes e sem coração buscam um ideal inexistente, sua própria idade joga contra na hora da escolha. Cada resposta negativa, ou seja, entraremos em contato com o senhor em breve, aumenta ainda mais seu desespero. O dinheiro acaba. E logo se passam dois anos nessa condição. 

O casamento começa a entrar em crise, gastos tem de ser cortados e seu filho começa a se envolver em problemas. Em meio a tantas desgraças e negativas Burke toma uma decisão tem de conseguir seu emprego novamente. E como? Através de uma ideia genial que o fará conhecer cada um de seus adversários, a partir de então é hora de começar a eliminar as pedras do caminho, uma a uma... 

   O Corte (2001) | Ficha Técnica 
   Título original: The Ax (1997)
   Autor: Donald E. Westlake
   Tradutora: Celso Nogueira
   Editora: Companhia das Letras
   Páginas: 304 páginas
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   Nota: ☠☠☠☠☠☠☠☠☠☠ (10/10 Caveiras)

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