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Resenha | O Homem da Noite de Tony Kenrick



O Homem da Noite é um suspense psicológico dos anos setenta que mistura cenas de ação e violência explícita com uma premissa bizarra e exagerada que tinha tudo para não dar certo, mas que estranhamente funciona. O protagonista é escolhido pelo governo americano para participar de testes para uma nova tecnologia ultrassecreta, uma espécie de colírio que o fará enxergar à noite, o problema é que como efeito colateral ficará cego durante o dia. Se não bastasse essa condição ele logo percebe que está no meio de um perigoso jogo político de espionagem, envolvendo interesses bélicos de outros países, e embarcará em uma jornada mortal envolvendo mentiras, sequestros, tortura e mutilação.

A narrativa se utiliza com assertividade do fato do personagem não conseguir enxergar para adicionar mais suspense, tensão e mistério à trama, a sensação de desorientação e claustrofobia causada pela experiência da cegueira amplifica os perigos que surgem ao longo das páginas. O protagonista é voluntário em um abrigo para cegos, onde ensina os princípios básicos de adaptação e linguagens de comunicação, os primeiros capítulos oferecem informações interessantes sobre as dificuldades da cegueira, não só das questões físicas, mas também emocionais e psicológicas, além de contextualizações históricas.

A ideia do colírio em si é bem estranha e mal explicada, a falta de um embasamento científico que torne a tecnologia verossímil é um dos principais defeitos da narrativa, as próprias regras criadas pelo autor são quebradas pelo seu texto em diversos momentos, o que a torna interessante são as situações que advém da aceitação dessa premissa. Conforme os efeitos da fórmula começam a ser explorados, o personagem aprende que a teoria e prática da cegueira são aspectos completamente diferentes, a trama se torna vertiginosamente ágil quando as ameaças aparecem e instituem uma sensação de paranoia constante.

A escrita de Tony Kenrick envelheceu bem, afora alguns comentários machistas típicos dessa época, seu forte são as descrições físicas do medo, a sensação claustrofóbica de estar envolto em escuridão sabendo que se está em perigo e não é possível confiar em ninguém. A capa vende o livro como uma história médica, mas há pouca relação com a temática, exceto por uma cena memorável sobre um procedimento cirúrgico irregular de remoção de olhos que é visceralmente perturbadora. A trama se aproxima mais de uma história de espionagem ambientada num cenário de Além da Imaginação.

O Homem da Noite é mais uma história sobre os perigos e horrores de experiências sem ética do governo, suas páginas são cheias de ação e tensão esmagadora. Seu texto ágil oferece uma leitura divertida, especialmente por sua premissa inusitada, mas que é prejudicada pelo seu final, que fica muito aquém das possibilidades de sua trama sombria. 

   
  O Homem da Noite (1979) | Ficha Técnica
   Título original: The Nighttime Guy (1979)
   Autor: Tony Kenrick
   Tradutor: A. B. Pinheiro de Lemos
   Editora: Record
   Páginas: 221 páginas
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   Nota:☠☠☠☠(7/10 Caveiras)

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