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Resenha | Caçada Implacável de David Osborn


Nas décadas de setenta e oitenta surgiram vários livros que exploravam os efeitos devastadores da guerra, em especial a do Vietnã, em pessoas comuns. O cerne destas histórias estava em como elas enfrentam problemas para se reajustar a sociedade, em meio a trauma, paranoia e pesadelos advindos dos horrores do campo de batalha. 

A guerra não acabou com o cessar fogo do conflito, mas continuou em solo americano quando ex-soldados desenvolvendo surtos psicóticos e entrando em frenesi assassino, partiam para verdadeiras odisseias sanguinárias atacando o considerado coração americano: as famílias e os bairros de classe média. 

Seja na figura do americano médio que vê sua família sendo ameaçada por um ex-soldado e precisa ultrapassar os limites da moralidade para protegê-la, como em Cabo do Medo de John D. Macdonald, ou ex-combatentes que precisam enfrentar fantasmas do passado e confrontar seus atos brutais durante a guerra, como em Koko de Peter Straub, ou ainda a crise psicótica de um soldado mentalmente instável que utiliza seu treinamento militar para assombrar uma cidadezinha americana, como em Primeiro Sangue de David Morrell (que apresenta um John Rambo muito mais sombrio e psicopata que o dos cinemas).

Todos abordam o tema de um prisma que confronta a culpa americana em relação aos horrores praticados na guerra com preceitos morais, defendendo uma visão positiva de como os valores e ideais sociais triunfam perante a violência. Este não é o caso de Caçada Implacável de David Osborn, que parte para uma abordagem decididamente niilista, em uma narrativa perturbadora e surpreendentemente explícita e visceral para a época de sua publicação em 1974. 

Seus personagens são odiosos, seres humanos perfeitos na superfície, que escondem uma alma miserável. Ninguém é inocente. Toda a violência, as mortes e a própria vida parecem não ter sentido algum. Na história três veteranos de guerra, com famílias normais e ótimos empregos, possuem uma espécie de ritual anual que envolve uma viagem a uma floresta do interior de Michigan, onde se aconchegam em uma cabana e saem para caçar. 

O problema é que suas presas favoritas são seres humanos. Todos os anos durante a viagem até o local eles sequestram aleatoriamente um jovem casal para levar consigo. Após violentas sessões de tortura eles são libertos na mata, para depois serem caçados brutalmente. A trama acontece no sétimo ano dessa tradição, quando um elemento inesperado entra na equação e os papéis de presa e caçador são contestados em uma orgia de sangue.

David Osborn tem uma narrativa ágil e visceral, sem economizar nas descrições de violência  oferece uma visão interessante sobre as motivações dos assassinos, antes do conceito de serial killers, com relação as razões de sua união e as tensões em torno do poder de vida e morte que compartilham. Cada ponto do texto é bem amarrado, mesmo seu prólogo misterioso e início lento fazem sentido nas páginas finais. 

As críticas centram-se nos mesmos elementos de romances do gênero dessa época, principalmente na construção antiquada das figuras femininas. A principal característica de Caçada Implacável é sua perspectiva visceral ao abordar abusos e violência, dissecando o falso moralismo da sociedade da época a partir de um viés extremamente pessimista, não há nenhuma boa ação e principalmente não há heróis aqui. 

Seus protagonistas são alguns dos mais odiáveis da literatura, até os personagens que se encaixam nos papéis de vítimas tem seus problemas e pecados. A reviravolta na narrativa é construída lentamente ao longo da história bem à vista do leitor, causando suspense e angústia com relação ao momento em que será revelada e efetivamente surpreendendo no momento que isso acontece. O ultimo terço do livro é catártico e libertador.

   
  Caçada Implacável (1974) | Ficha Técnica 
   Título original: Open Season (1974)
   Autor: David Osborn
   Tradutor: Ruy Jungmann
   Editora: Record
   Páginas: 234 páginas
   Compre: ---
   Nota: ☠☠☠☠☠☠☠ (9/10 Caveiras)

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