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Séries de livros de terror abandonadas por editoras brasileiras, parte II


Na edição anterior dessa seção que aborda as séries, coleções e trilogias de livros de terror que foram abandonadas pelas editoras brasileiras (ou jazem incompletas em um hiato de publicação eterno) citei algumas das mais populares, como Odd Thomas e Frankenstein de Dean Koontz e O Ciclo do Inimigo de F. Paul Wilson, portanto dessa vez vou falar de algumas menos conhecidas e mais antigas. São continuações que grande parte dos leitores sequer sabe de suas existências, e embora algumas sejam bem questionáveis, fica a curiosidade em saber como se encaixam dentro do universo do original.

A Sentinela de Jeffrey Konvitz 
Quando Jeffrey Konvitz publicou A Sentinela em 1974 o interesse do público por tramas diabólicas estava ardendo em chamas, a obra alcançou um sucesso relativo que acabou culminando no filme A Sentinela dos Malditos de 1977. Dois anos depois surgiu a continuação The Guardian (referenciada em algumas edições inglesas como The Apocalypse), que mostra as repercussões das ações da protagonista na conclusão do livro anterior e seu pesadelo na penitência contras as forças satânicas. 

A ideia era uma trilogia, mas ao invés de concluir a batalha entre a humanidade e as forças infernais, Jeffrey Konvitz publicou um livro sobre o Monstro do Lago Ness em 1982 e entrou em um hiato de publicações que dura até hoje. As últimas informações oficiais são de 2016, quando os dois primeiros volumes foram relançados em versão digital nos Estados Unidos, como preparação para a publicação da tão esperada conclusão, que ainda não aconteceu. No Brasil A Sentinela foi publicada pela editora Record na década de setenta.

O Horror em Amityville
Os acontecimentos na casa do endereço 112 na Ocean Avenue, Amityville, em Long Island tiveram um grande impacto no imaginário popular em relação a casas assombradas. O horror começa em 13 de novembro de 1974 quando a polícia descobre o assassinato de uma família inteira enquanto eles dormiam. Ronald Defeo Jr. usou um rifle para matar os pais e seus quatro irmãos, alegando ter ouvido vozes que vinham de dentro da casa e que o influenciaram a cometer os crimes. Um ano depois George e Kathy se mudam com os filhos para a antiga casa dos Defeo e o resto você já conhece.

Diversos investigadores paranormais visitaram a casa de Amityville, como Ed e Lorraine Warren, em busca de respostas e até mesmo tentando capitalizar os eventos. O mais polêmico de todos foi Hans Holzer, que mergulhou profundamente na história do lugar e na tragédia da família Defeo. Ele causou bastante controvérsia ao afirmar que a casa havia sido construída sobre um antigo cemitério indígena e que o espírito de um chefe índio havia possuído Ronald Defeo Jr. e o instigado a cometer os assassinatos. As investigações de Hans Holzer foram publicadas em Murder In Amityville (1979), livro que serviu de inspiração para o segundo filme da saga Amityville, The Amityville Curse (1981) e no livro de ficção The Secret of Amityville (1985).

O livro mais famoso a explorar os estranhos acontecimentos sobrenaturais envolvendo a família Lutz é Amityville de Jay Anson (nas edições mais antigas, Horror em Amityville). Com o  grande sucesso da obra, na versão cinematográfica e na literária, George e Kathy Lutz foram convidados a participar de vários programas de televisão, sempre em entrevistas polêmicas e sensacionalistas cercadas por debates acalorados sobre a veracidade de seus relatos. Em uma dessas entrevistas o casal afirmou que ainda estava enfrentando perturbações sobrenaturais e que um novo livro chamado "A Force of Magnitude: Amityville II" traria o relato dessa nova assombração. 

"A Force of Magnitude: Amityville II" nunca foi publicado, mas um escritor chamado John. G ​​Jones demonstrou interesse pela história e a reescreveu com o título "The Amityville Horror II". O livro continua com a premissa de ser baseado em fatos reais, sua principal característica está nas várias modificações que faz à história de Jay Anson, sendo a mais relevante com relação a noite final dos Lutz na casa.  Após escapar de Amityville, os Lutz vão para a casa da mãe de Kathy, onde acreditam que finalmente estarão em segurança. Porém George ainda é despertado todas as noites por uma força sobrenatural e Jodie ainda persegue seus filhos. Em paralelo aos eventos paranormais, o casal ainda tem que enfrentar os ataques da imprensa e dos céticos.

Com o sucesso dos dois primeiros livros surgiu Amityville: The Final Chapter (1985), obra que traria o suposto final da história dos Lutz, o último confronto do casal com as forças sobrenaturais que há anos os perseguiam. E desta vez, além de assombrações fantasmagóricas, há genuinamente manifestações demoníacas. John G. Jones continuou a explorar o tema em Amityville: The Evil Escapes (1988), uma coleção de seis contos puramente ficcionais que exploram a história da casa, e que acabou inspirando dois filmes da saga de Amityville: Amityville 4 - A Fuga do Mal e Amityville 6 - Uma Questão de Hora.

O limite da decência com relação a criação de algo visando explicitamente o lucro é testado por  Amityville: The Horror Returns de John G Jones (1989), que usa uma péssima explicação para o envolvimento dos Lutz com o sobrenatural novamente, e Amityville: The Nightmare Continues de Robin Karl (1991), que ignora todas as continuações e faz uma espécie de reboot da série. John G. Jones que era o autor oficial da série ficou um tempo sem publicar nada, na verdade ninguém ouviu falar dele por mais de trinta anos, até que em 2014 ele reapareceu e lançou o conto Amityville Horror Christmas na  Amazon. Um ano depois publicou Amityville Now: The Jones Journal, livro que narra sua experiência real com o sobrenatural, advinda do envolvimento com os Lutz e Amityville.

Trilogia da Rosa Azul de Peter Straub 
Peter Straub sempre teve uma publicação irregular no Brasil com vários de seus livros premiados sendo simplesmente ignorados pelas editoras que detinham seus direitos. Na coleção Mestres do Horror e da Fantasia da editora Francisco Alves, a trilogia da Rosa Azul começou a ser publicada já nos últimos anos de existência da coleção e quando o último volume foi lançado nos Estados Unidos, The Throat, ela já havia sido descontinuada. O livro reuniria os personagens dos livros anteriores, Koko e Mistério: Os Crimes da Rosa Azul, em um suspense psicológico com a típica complexidade narrativa do autor.

A Invasão dos Ratos de James Herbert
James Herbert é um dos grandes nomes da literatura de horror inglesa que infelizmente é praticamente desconhecido por aqui. Em A Invasão dos Ratos, publicado no Brasil em 1976 pela editora Portugália, conhecemos uma raça de ratos mutantes carnívoros que invade Londres causando centenas de mortes (as pessoas são literalmente devoradas por uma massa viva de ratos). A ameça fica mais perigosa em Lair (1979), ambientado cinco após os eventos eventos do primeiro livro, que traz ratos maiores (sério, eles chegam a dois metros) e mais inteligentes. E por fim em Domain (1983) em meio a um pós-apocalipse nuclear, os remanescentes da humanidade precisam enfrentar uma nova ameça  mutante vinda da gigantesca população de ratos.

Psicose de Robert Bloch 
Psicose é o clássico de Robert Bloch publicado originalmente em 1959 e eternizado pela adaptação de Alfred Hitchcock. Porém a relação entre o autor e a indústria cinematográfica ficou extremamente abalada quando ele decidiu satirizar os filmes de terror de Hollywood em Psycho II (1982). A Universal Studios que já planejava uma adaptação odiou a história, contratou um roteirista para criar uma versão diferente e não convidou o autor para nenhuma exibição. De fato eles tentaram até fazer com que Bloch abandonasse seu romance, mas ele foi publicado mesmo assim. Em Psycho II após passar vinte anos trancafiado em um manicômio, Norman Bates,  descobre que estão gravando um filme sobre sua vida e decide ir para Hollywood matar todos os envolvidos na produção.

Psycho House: Psycho III foi publicado em 1990, sem Norman Bates como protagonista, a obra explora a reconstrução do Bates Motel como uma macabra atração turística e as investigações sobre o verdadeiro histórico do local, para a escrita de um livro reportagem sobre os assassinatos que ocorreram ali. Psycho: Sanitarium de Chet Williamson, foi lançado em 2016 e ampliou o universo de Robert Bloch, ao narrar os eventos que ocorreram quando Bates estava preso.

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3 Comentários

  1. O seu trabalho de pesquisa para escrever esses textos é extraordinário, parabéns!

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  2. Reli recentemente A Sentinela. Tomara que publiquem a continuação por aqui.

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