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Resenha | Cantigas no Escuro org, de Laura Pohl


Cantigas no Escuro é um mergulho nostálgico e sombrio no cerne das canções que ditavam o tom das nossas brincadeiras infantis, cantigas que escondem por trás de suas rimas inocentes avisos sobre horrores além da imaginação. Seis autoras brasileiras reimaginam as origens folclóricas das cantigas mergulhando em seu lado insólito, em narrativas que exploram o horror em sua dimensão social, usando o medo como conduíte para histórias que falam sobre assuntos tabus na sociedade, como relacionamentos abusivos ou a própria descoberta da sexualidade, ao mesmo tempo em que tecem tramas assustadoras que alimentam a imaginação do leitor. 

Jana Bianchi abre a antologia com 'ciranda cirandinha' em uma versão assombrada chamada "Diga adeus e vá se embora", quando um grupo de jovens descobre um estranho objeto enterrado no sítio de seus avós, sua curiosidade é aguçada pelos mistérios e segredos que envolvem a descoberta e a insistência em conseguir respostas acabará despertando um mal adormecido há décadas. Com um sussurro que atravessa o silêncio da noite, Iris Figueiredo recria 'fui no tororó' através das páginas de "Na beira do rio", quando uma jovem vai passar o fim de semana no sítio da família de uma amiga, sua atenção é capturada por um sombrio retrato no casarão, cujo olhar lhe causa uma sensação estranha, intensificada pela história macabra associada a imagem. Um encontro fantasmagórico ditará o tom da narrativa que culminará em uma descoberta que mudará a vida de todos.

Solaine Chioro percorre caminhos sombrios para criar uma versão mortal de 'se esta rua fosse minha' em "Juro que Te Amo", ao voltar de uma festa à noite duas irmãs se deparam com uma estranha rua ladrilhada com pedrinhas de brilhante, o que elas não sabem é que no final dessa passagem de contos de fadas vive uma criatura que fará de tudo para aplacar sua solidão com vísceras e sangue. Gabriela Martins explora as horríveis consequências de relacionamentos abusivos em "Escamas de Espinhos" com delicadeza a partir de 'o cravo e a rosa', na clássica premissa da moça que começa a se afastar de seus amigos e perder sua liberdade após entrar em um relacionamento, o elemento fantástico entra em cena para garantir um final mortal tão afiado quanto a ponta de um espinho.

Emily de Moura se baseia em 'alecrim' para criar "Dourado", uma versão atual e sombria de um mito folclórico que assombra as pequenas cidades do interior: o corpo-seco. Uma jovem assombrada pelos medos de infância decide retornar ao sítio dos avós, onde as visões que compõe seus pesadelos tiveram origem, lá descobrirá que monstros são reais assim como as mais belas histórias de amor. Laura Pohl fecha a antologia com "Algo Teu", história enraizada em 'batatinha quando nasce' que explora os efeitos das maldições de lugares assombrados e o que acontece com aqueles que quebram essas proibições. A protagonista é desafiada a ir até uma cabana assombrada e pegar uma batata, da plantação que a cerca, para provar o feito. O que ela não sabe é que esse simples ato dará consentimento para uma força sombria afetar diretamente sua vida. Cantigas no Escuro é uma ótima opção para quem busca histórias ágeis que misturam leveza e terror com habilidade e originalidade. 

  Cantigas no Escuro (2018) | Ficha Técnica 
  Organização: Laura Pohl
   Editora: Independente 
   Páginas: 236
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   Nota: ☠☠☠☠☠☠☠☠☠ (10/10 Caveiras)

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