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Resenha | O Colecionador de Peles de Jeffery Deaver


Jeffery Deaver é um dos escritores mais surpreendentes que você vai encontrar na sua vida como leitor. Seus livros são obras-primas das reviravoltas, em cada página há uma surpresa tão grande que modifica todo o cenário da estória até o momento, seus textos são labirintos de charadas e armadilhas que levam a lugares sombrios da alma humana e uma pequena vírgula, estrategicamente colocada, pode mudar por completo o significado da dedução.

O Colecionador de Peles é o 11° livro da série protagonizada por Lincoln Rhyme e Amelia Sachs. Posso lê-lo sem nunca ter lido nada do autor? Sim, é claro. Agora, isso é aconselhável? Não! Infelizmente, apesar de terem sido publicados em sua ordem cronológica correta, há muitos livros que não foram traduzidos para o português, de modo que o leitor encontra uma grande lacuna dentro do mosaico da série. 

Não falo da trama principal, pois ela é fechada em cada volume, mas sim do subtexto que trata da evolução psicológica dos personagens e conexões de casos sem solução. Por exemplo, em Lua Fria, o sétimo livro da série, foi apresentado O Relojeiro, uma espécie de James Moriarty para Rhyme, seu duelo psicológico com o detetive continua no livro seguinte, A Janela Quebrada, publicado aqui ano passado. 

Nos dois livros seguintes que não chegaram no Brasil, The Burning Wire e The Kill Room, há o ápice do confronto entre os dois e as ramificações das estórias permeiam a narrativa de O Colecionador de Peles. Ou seja, mesmo o leitor nacional que é fã sofre com spoilers de livros anteriores. Mas Deaver é tão bom que mesmo com esse problema a leitura é inesquecível. 

Para se situar minimamente dentro do contexto da série e ter o entendimento pleno do que acontece em O Colecionador de Peles, é preciso antes ler O Colecionador de Ossos e Lua Fria, livros cujas tramas são pontos chaves dentro da estória de Rhyme. O Colecionador de Ossos é o primeiro volume da série e apresenta o leitor a Lincoln Rhyme, o ex-detetive de homicídios que ficou tetraplégico após sofrer um acidente enquanto processava a cena de um crime. 

Rhyme ainda se adaptando à suas deficiências é recrutado pela polícia de Nova York para ser consultor forense, em um caso que está deixando os moradores da cidade aterrorizados, durante a investigação  conhece Amelia Sachs, uma detetive que será seus olhos e pernas nas cenas dos assassinatos através de um modo de investigação bastante particular e interessante. A escrita de Jeffery Deaver é fantástica, seus livros são carregados de dados técnicos exemplificados de uma forma tão didática que são um combustível a mais na agilidade do texto. 

É sempre possível aprender curiosidade bizarras através dos métodos de investigação de Rhyme. Outro ponto a ser ressaltado é a utilização da tecnologia na resolução de crimes, desde O Colecionador de Ossos, escrito no final da década de 90, Deaver explora a com precisão toda a amplitude e usabilidade dos equipamentos tecnológicos na investigação, de bancos de dados de digitais até espectrógrafos que analisam as evidências microscópicas, e é interessante acompanhar a evolução dos métodos até O Colecionador de Peles.

O Colecionador de Ossos, um serial killer que possuía fetiche por ossos humanos, foi o primeiro desafio da nova carreira de Rhyme. A crueldade de seus atos tornou-o centro das atenções na mídia, de modo que sua estória foi tema de inúmeros artigos e livros que dissecavam não apenas seu modus operandi, mas também os métodos da investigação de Rhyme. Para uma pessoa normal isso seria uma leitura interessante sobre um monstro real, mas para outro serial killer é um manual de instruções de como burlar os métodos investigativos e aprender com os erros do outro criminoso. 

Foi exatamente essa a fonte para a inspiração do Colecionador de Peles. Um assassino em busca de vingança que tatua as suas vítimas com venenos exóticos,  deixando misteriosas mensagens codificadas. Mas nada é o que parece em um livro de Jeffery Deaver, mesmo estando preparado para surpresas no enredo fui completamente refém das reviravoltas. 

Como um leitor constante, mesmo estando atento as pistas que estão nas entrelinhas fui enganado, as indicações das verdadeiras intenções do assassino estão completamente à vista do leitor, que só percebe o que deixou passar após o final da leitura. Ler Jeffery Deaver é embarcar em uma viagem em uma montanha-russa ao lado de um psicopata numa noite chuvosa, sem ter nenhuma noção da condição dos trilhos e do lhe espera no final. Torça pelo melhor, mas esteja preparado para o pior. 

   O Colecionador de Peles (2015) | Ficha Técnica 
   Título original: The Skin Collector (2014)
    Autor: Jeffery Deaver 
   Tradutor: Luiz Paulo de Carvalho
   Editora: Record
   Páginas: 490 páginas
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   Nota: ☠☠☠☠☠☠☠☠☠☠ (10/10 Caveiras)

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5 Comentários

  1. Sinistro e carregado de impiedade como só uma tatuagem envenenada sabe ser! Era a quarta leitura planejada para o mês... passou a ser a terceira. Já estou terminado Os Cães de Calder. Vou engatar o Alienista de Caleb Carr, mas já vou à caça do Colecionador de Peles. Parabéns, Rafa! Você tem o dom de desorganizar filas metodicamente organizadas! rs

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  2. Tenho vários livros do autor empacados na estante e não sei por que ainda não li nenhum. Vou iniciar a leitura dos livros o mais rápido possível, ainda mais eu que sou super fã de reviravoltas grandiosas.

    bomlivro1811.blogspot.com.br

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  3. Eu fui um dos que leram O Colecionador de Peles sem ter lido os anteriores, exceto A Cadeira Vazia, e visto o filme o colecionador de Ossos, que deixa a dever muitos detalhes. Por isso, apesar de me situar bem no livro, não tive a mesma emoção que teria se já acompanhasse a série. Confesso que chegou um ponto que as reviravoltas me cansaram um pouco, mas noventa por cento do livro pra mim foi sensacional.

    http://porquelivronuncaenguica.blogspot.com/

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  4. Mês passado, eu comprei "O Colecionador de Ossos", "Cadeira Vazia" e "O Colecionador de Peles". Na próxima oportunidade, comprarei também "Lua Fria" e "A Janela Quebrada". Agora, alguém sabe por que a editora Record não lançou os outros livros da coleção?

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  5. Um livro do referido autor que não foi citado aqui e que é muito bom, chama-se: "dança com a morte"

    O li numa seleção de livros de uma revista chamada Seleções!

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