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Resenha | The Game: Ruído de Anders de La Motte


Buzz. Ruído. Geralmente quando surge um boato evidenciando o lado negativo de um produto, empresa ou qualquer outro tipo de serviço, o assunto rapidamente se espalha pelas redes sociais e atingindo milhões de pessoas acaba viralizando. Grande parte disso se deve pela rede de usuários que ao comentar  e compartilhar a informação cria o  buzz, gíria que se refere ao  ruído que os internautas fazem ao se interessar por um conteúdo, algo parecido com o zumbido das abelhas em uma colmeia, dependendo da quantidade e da agressividade dos comentários de usuários isso pode ser devastador para uma empresa. 

Um caso recente que serve a título de exemplificação pode ser o do rato na garrafa de refrigerante. Imagine os milhões de dólares que a empresa perdeu com vendas, em tipo de produto que é comercializado mundialmente desde o maior supermercado da cidade até a mercearia da esquina, mesmo a notícia sendo desmentida mais tarde, o estrago já havia sido causado,  mas há algo que pode ser feito para minimizar esse tipo de dano, é nesse caso que entram as empresas conhecidas por oferecer o buzz control. Ou seja, os controladores de ruído. 

A metáfora que me surge para as suas ações é a dos tropeiros do século  XVII conduzindo as tropas de gado para o abate. As vezes o número de animais era tão grande que os que ficavam no meio acreditavam-se livres por estarem seguindo a multidão, o que não sabiam é que a direção estava sendo controlada por pessoas "invisíveis" na borda do rebanho. 

A ação básica de um buzz control é o astroturfing, a tradução livre é grama sintética, ou seja, o próprio significado entrega o segredo, um objeto criado para imitar com o maior grau de veracidade algo real. O astroturfing é uma espécie de ação publicitária que tenta criar a impressão de que o "hype" que rege a opinião pública é espontâneo, quando na verdade é o minucioso trabalho de perfis falsos que justificam a ação com comentários, opiniões e discussões nas redes sociais que fomentam, ou a exacerbada qualificação de um produto falho ou o ataque a um produto concorrente. 

Mas onde é que The Game entra nisso tudo? Anders de La Motte, com toda a sua experiência em segurança na internet, cria a ArgosEye, uma empresa de buzz control agressivamente efetiva. A maneira didática e informativa que ele aborda o assunto faz com que o leitor reflita sobre o atual estado das redes sociais, nosso perfil não é mais uma ferramenta de socialização, mas sim um produto. Um produto pelo qual as empresas pagam caro para atingir. Isso tudo nos faz voltar ao caso exemplificado acima, será que realmente a informação era falsa?

O começo de The Game II: Ruído é fraco em comparação ao primeiro volume, no qual a ação está presente desde as primeiras páginas no momento que HP encontra o celular, na verdade o terço inicial da estória é bastante lento e mesmo a escrita ágil do autor não consegue imprimir aquele ritmo frenético de leitura. Isso se deve ao fato do início acompanhar a reestruturação da vida dos protagonistas, após os dramáticos eventos anteriores, de modo que não há nenhuma ameaça explícita que justifique a tensão, porém quando é introduzida na trama a ArgosEye, o livro muda completamente de figura. É a mesma sensação que acompanha a primeira subida de uma montanha-russa, o carrinho vagarosamente alcança  topo, deixando entrever o abismo que o aguarda para então destruir suas defesas com o sufocante mergulho na primeira curva decrescente. 

A narrativa de Anders de La Motte é construída a partir da associação de ideias, frases curtas se conectam facilmente com referências a cultura pop criando uma leitura articulada e lépida. A estória é contada através dos diferentes pontos de vista de Henrik HP Peterson e Rebeca Normén, cada trecho de narração se altera e mescla através de uma colocação, um pensamento que o outro completa criando uma conexão direta com o leitor, o problema é que muitas vezes esse troca de narração não fica bem explícita e só após algumas linhas é que você nota a alteração de protagonista. 

O livro cresce em ritmo e em tensão conforme as ações da Argos são desvendadas, a cada pá de mentira retirada da putrefata diretoria da empresa, o protagonista descobre que as raízes do Jogo são mais profundas e obscuras que imaginava. Como o segundo volume de uma trilogia, Ruído funciona bem na tarefa de ligação entre os livros, mas não espere encontrar as respostas que o primeiro volume deixou para trás, o que há é desenvolvimento dessas questões não respondidas e as poucas respostas servem apenas para criar novas e complexas perguntas. 

O livro se destaca pela abordagem da manipulação de opinião na internet, um assunto pouco discuto mas de grande relevância. O resultado é um livro interessante, que não chega a surpreender com grandes reviravoltas ou pelo ritmo frenético mas entrega com propriedade o que propõe ao leitor, um thriller de mistério que entretém e diverte na mesma medida que causa reflexão. Ruído é um novo nível no Jogo no qual a eliminação não é uma opção.

   Ruído (2015) | Ficha Técnica 
   Título original: Buzz (2011)
   Autor: Anders de la Motte
   Tradutores: Alexandre Matias e Mariana Moreira Matias
   Editora: Darkside Books
   Páginas: 320 páginas
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   Nota: ☠☠☠☠☠☠☠☠☠ (9/10 Caveiras)

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1 Comentários

  1. Pra variar, mais uma grande resenha :)

    Gostei da abordagem sobre o que é ruído e, claro, o fato de vc ter destacado a manipulação da opinião na internet. Direto no ponto.

    Bjs!!

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