Rose Madder possui uma das inícios mais sufocantes dos livros de Stephen King, sem nenhum preparo ou advertência o leitor é sugado para o ambiente fechado e claustrofóbico de uma relação de casal baseada na violência. É possível sentir a garganta arder com os arquejos respiratórios de Rose, desta vez Norman passou dos limites nas surras que lhe aplica, seu rosto jaz intacto ele é inteligente o suficiente para saber que hematomas ali fomentariam perguntas, seu alvo é a barriga, seus rins já estão doloridos das pancadas diárias e sangue é uma presença constante em sua urina.
 
Mas desta vez é pior, caída entre os móveis da sala uma poça vermelha se forma entre suas pernas, mesmo a menção da gravidez não foi o suficiente para frear a fúria sádica de seu marido. Até seus gritos mesclados a lagrimas de desespero não surtiram efeitos. O monstro assassino que existe por de trás de Norman ainda a observa de soslaio no chão enquanto se agacha na sua frente, calmamente comendo um sanduíche de frango lhe diz a história que irá contar aos médicos. Rose aguentou a loucura de seu marido por mais nove anos.

Rose McClendon é uma das grandes personagens femininas do autor que cresce a medida que a história avança, a pequena moça tímida e nervosa das páginas iniciais se transforma em uma corajosa e decidida mulher quando tem que enfrentar seus medos no ápice dos capítulos finais. O livro pode ser dividido em duas partes, a primeira é um suspense psicológico denso com toques de drama que parece ter saído das mãos do próprio Richard Bachman, na segunda parte há a inserção do sobrenatural mudando quase que completamente o foco da história.

Rose encontra um quadro no qual ela consegue 'entrar' na realidade da pintura. Há diversas conexões com A Torre Negra subentendidas. Alguns leitores criticam essa mudança de tom narrativo do livro, particularmente foi sim uma guinada bastante abrupta, mas eu gostei uma agradável surpresa esse ar sobrenatural nas páginas finais. 

Stephen King em Rose Madder mais uma vez escreve sobre a loucura e os caminhos obscuros da mente humana, o labirinto de podridão decomposta que cresce a medida que sanidade se esvai aos poucos, como uma criança perdida em seus corredores sombrios. Norman Daniels é um dos vilões mais sádicos e dementes do autor, sua história fica ainda mais macabra quando o leitor descobre que ele é um detetive policial reconhecido como herói na pequena cidade onde vive, a fachada perfeita para esconder a horrível criatura que habita sua alma.

Não há monstro mais assustador que aquele que vive ao seu lado escondido em uma pele de cordeiro. Rose Madder é indicado para os fãs que já possuem certa intimidade com Stephen King, embora também seja uma leitura interessante para quem ainda não o conhece não é um exemplo do estilo que o consagrou. Boa Leitura!

   Rose Madder (1996) | Ficha Técnica 
   Título original: Rose Madder (1995)
   Autor: Stephen King
   Tradutora: Myriam Campello
   Editora: Objetiva
   Páginas: 632 páginas
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   Nota: ☠☠☠☠☠☠☠☠☠ (9/10 Caveiras)