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Resenha | A Hora do Terror #1


A Hora do Terror foi uma HQ antológica publicada pela editora Ninja na década de noventa. Essa foi uma época interessante e problemática para a produção de quadrinhos de terror nacional, ao mesmo tempo que havia dezenas de novos títulos sendo lançados, poucos conseguiam se firmar o suficiente para ter vários volumes, como as clássicas Calafrio, Spektro e Pesadelo, em grande parte devido a dificuldades de distribuição, a inflação e até mesmo a censura. 

A Hora do Terror é um desses exemplos, a revista teve apenas duas edições antes de ser cancelada. Nesta primeira edição as histórias se destacam pela qualidade dos artistas envolvidos, pela utilização de elementos e contextos brasileiros na roteirização e pela forma sólida como o horror é abordado, sem a necessidade de uma erotização exacerbada das personagens, como era comum na época para atrair a atenção dos leitores na banca. São quatro histórias que exploram o horror de diversas formas.

Em O Apocalipse: o final dos Tempos, com texto de João Costa e arte de Mozart Couto, a clássica história sobre o fim do mundo ganha uma versão repleta de rituais satânicos e criaturas demoníacas  no coração da floresta amazônica. Na trama uma pacata cidadezinha tem seu sossego perturbado quando jovens locais são brutalmente assassinadas, além da severa mutilação dos corpos outro detalhe chama a atenção de todos: as vítimas são encontrados sem o coração. O delegado acredita que um maníaco está nas redondezas, mas o padre da cidade suspeita que as mortes estão ligadas a uma antiga profecia apocalíptica. 

O texto é simples e em vários momentos lembra algumas produções hollywoodianas do gênero. O que se destaca é a arte de Mozart Couto, que utiliza a ambientação amazônica com perfeição para construir o clima necessário para a história funcionar. As cenas que se aproveitam da escuridão claustrofóbica da mata fechada são incríveis. 

Seu traço é bem característico e neste caso contribui para criar a sensação de representação, seus personagens, construções e casas possuem traços brasileiros reconhecíveis. Uma história divertida que aborda o apocalipse na perspectiva católica de uma cidadezinha do interior. 

Em Belial, história que ilustra a capa e conta com roteiro e desenhos de João Costa e finalização de Paulo Hamasaki, a trágica narrativa do protagonista que faz um pacto com o demônio e barganha sua alma em troca de um período de tempo de riquezas ganha contornos nacionais.  É uma temática bastante recorrente nos quadrinhos da época, o único elemento interessante são os desenhos visualmente impactantes de Belial, a trama é clichê e monótona, desde o primeiro quadrinho o leitor sabe o que acontecerá no final e o roteiro sem surpresas é salvo pela sua curta duração. 

O Táxi Assombrado, com texto de Franco de Rosa e desenhos de Fernando Bonini, explora um tema que estava em alta nas manchetes da época, com as histórias do taxista que levou em uma viagem uma loira fantasma, sua construção narrativa leva a crer que esta história, chamada "Não chore meu filho" é episódica e que existem mais aventuras do protagonista Jonas e seu táxi por aí. É uma trama engraçada, ágil e de aspecto cinematográfico.

Jonas é um taxista que acredita que seu veículo é assombrado, já que tem dois dias que comprou o carro e não conseguiu nenhum passageiro, não lhe conforta nada saber que o dono anterior morreu no interior automóvel esfaqueado por assaltantes. E que ele trabalha no turno da noite. Uma passageira grávida entra no táxi, sua respiração ofegante demonstra que o parto está próximo e Jonas corre para chegar a maternidade, porém no meio do caminho o pneu fura e o parto acontece no acostamento. A surpresa está no fato de quem é o pai da criança.

O Incrédulo, mais uma vez apresenta com roteiro e desenhos de João Costa e finalização de Paulo Hamasaki, explora a intolerância religiosa do brasileiro. O protagonista está caminhando por uma praia quando descobre uma oferenda a Ogum. Com raiva do que considera uma "poluição", ele decide destruir o altar, mesmo sendo alertado sobre a ignorância e as terríveis consequências de seus atos. Uma trama simples, mas que é eficiente em passar sua mensagem.

  A Hora do Terror 1 (1991) | Ficha Técnica 
   História da capa: O Táxi Assombrado e O Filho do Diabo
   Artistas: Mozart Couto, Paulo Hamasaki et al.
   Editora: Ninja
   Páginas: 36 páginas
   Compre: ----
   Nota: ☠☠☠☠☠☠☠☠☠ (7/10 Caveiras)

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