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Resenha | Trilogia Bill Hodges: Achados e Perdidos e Último Turno de Stephen King


O principal problema de Achados e Perdidos é que ele é um livro extremamente descartável dentro da trilogia e não tem importância alguma para a história principal, ao invés de ser uma obra de ligação entre Mr. Mercedes e O Último Turno, importante para o desenvolvimento da trilogia, é um livro que não faz a menor diferença se você ler ou não. 

Desde que eu vi a notícia de que em Achados e Perdidos o vilão de Mr. Mercedes não iria aparecer, sabendo de sua importância no contexto geral, fiquei receoso sobre o que encontraria nesta história, seria difícil para Stephen King criar outro antagonista interessante em tão pouco tempo, mas então a primeira metade do livro me desarmou completamente. Uma história sobre o vício da literatura, tanto seu aspecto benigno, como maligno, protagonizada por Morris Bellamy e Peter Saubers, escrita com a paixão de um amante de literatura diretamente para um leitor que ama a literatura tanto quanto. 

E é aí que jaz o segredo,  Achados e Perdidos não é um livro sobre Bill Hodges, mas sim sobre Bellamy e Saubers. O "famoso" detetive só aparece lá pela página 100 e sua história é um balde de água fria no que estava acontecendo até então, todo o suspense gerado pela antecipação do clímax é brutalmente assassinado por uma estória chata e sem importância alguma. A sensação é tão estranha que fui verificar o nome do autor na capa outra vez, para ter certeza de que era apenas Stephen King escrevendo e não mais uma daquelas obras de James Patterson e fulano de tal desconhecido. 

O pior é que há toda uma "conspiração do destino" para que Hodges acabe se envolvendo com o caso de Saubers, o que torna todo o enredo bizarramente inverossímil para quem é fã da própria verossimilhança do universo de Stephen King. Se um grupo de crianças conseguiu enfrentar uma criatura de outra dimensão em It: A Coisa, se um garoto atravessou territórios hostis para salvar um reino em O Talismã e um casal de jovens enfrentou um carro assassino em Christine, porque diabos um adolescente, protagonista de um livro de  Stephen King, sendo este ou não uma obra sobrenatural, não daria conta de um simples vilão humano?

Não é crível a maneira como Hodges se envolve com o caso e não é crível o modo como eles descobrem o que está acontecendo, a tecnologia facilitou muito as coisas em livros policiais, mas um mistério que há mais de trinta anos está em aberto, sem nenhuma conclusão, ser solucionado por uma simples busca no google através de um celular é decepcionante. Chega a ser desleixado. Como fã de Stephen King me senti decepcionado com o rumo que tomou Achados e Perdidos, principalmente depois de ser surpreendido com a primeira parte. 

O gosto que fica na boca após a leitura é o mesmo que experimentar sua comida favorita e sentir que um dos ingredientes estava estragado, sem falar que como fã de suspense policial me senti insultado pelas resoluções rápidas e toscas. A primeira parte da estória é sensacional, o King de sempre. Mas é só Hodges entrar em ação que a qualidade cai vertiginosamente.
 
   Achados e Perdidos (2016) | Ficha Técnica 
   Título original: Finders Keepers (2015)
   Autor: Stephen King
   Tradutor: Regiane Winarski 
   Editora: Suma
   Páginas: 376 páginas
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   Nota: ☠☠☠☠☠☠☠☠☠☠ (5/10 Caveiras)


  
O Último Turno é a prova do por quê Stephen King é relembrado por seus vilões e poucas vezes por seus protagonistas, o retorno de Brady Hartsfield, o "diabólico Assassino do Mercedes" é o sopro pútrido de ação que a trilogia precisava, mas ao invés de trazer alguma novidade para o enredo,  a impressão que é passada  é a de que estamos lendo a segunda parte de Mr. Mercedes. A trilogia como um todo ficaria muito melhor se King simplesmente tivesse esquecido essa ideia de três livros e condensado o primeiro e o último num volume só, um livro de seiscentas páginas nos mesmos moldes de Novembro de 63 ou Saco de Ossos. Na primeira metade da trama fica evidente a "encheção de linguiça" é só próximo ao final que o suspense verte das páginas e consegue prender o leitor.

A adição do sobrenatural é um elemento destoante de tudo o que havia sido mostrado até então, existem casos em que essa mistura dentro do romance policial funciona, um exemplo é Coração Satânico de William Hjorstberg, o sobrenatural no livro é um elemento a mais durante a investigação, mas aqui King fracassa, por que o usa como uma muleta para dar andamento a sua narrativa. 

As páginas que mostram o desenvolvimento dos poderes de Brady suscitam aquela sensação esmagadora de dejà vu em quem já leu Zona Morta, agora eu entendo a fala de King criticando os autores de suspense que só reescrevem a mesma estória com nova roupagem. Em comparação com autores policiais contemporâneos de primeira linha, como Lee Child, Jeffery Deaver e Jo Nesbo, a trama de O Último Turno parece até infantil, não consegue passar a sensação de perigo iminente e nem convence o leitor de que o vilão é uma verdadeira ameaça.

O livro consegue se salvar na reta final, quando o que deveria ter acontecido logo no primeiro livro, o confronto entre Brady e Bill Hodges, finalmente ocorre. Stephen King não decepciona na questão entretenimento, mas fica muito aquém de suas habilidades, se você nunca leu King é provável que goste do que encontrará nas linhas da trilogia, afinal é uma leitura fácil que não oferece nenhum desafio, mas se você é um leitor constante, acredito que sentirá falta da força do velho King. 

Há muitos anos não encontrava um livro do King em que após ler a última linha, ao invés de tomar fôlego por causa do clímax final, suspirei agradecido por finalmente acabar a leitura. Como disse anteriormente a trilogia toda ficaria muito melhor em livro só. 
 
   Último Turno (2016) | Ficha Técnica 
   Título original: End of Watch (2016)
   Autor: Stephen King
   Tradutor: Regiane Winarski 
   Editora: Suma
   Páginas: 344 páginas
   CompreAmazon
   Nota: ☠☠☠☠☠☠☠☠☠☠ (7/10 Caveiras)

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4 Comentários

  1. Só li Mr Mercedes até agora,não sei se continuo a trilogia ou parto para uma nova estória do king.

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  2. Meu preferido da trilogia é o primeiro, Mr Mercedes. O início brutal, a caracterização do vilão, e um final muito bem construído, contribuem para a obra entrar no meu top 10 do autor.
    Já Achados e Perdidos, concordando totalmente com a resenha, acho que seria muito melhor se fosse um livro independente, sem a participação do detetive Hodges, pois sendo assim o adolescente Peter teria que "se virar" com o vilão. Sendo assim, a obra poderia ser melhor até que Mr Mercedes.
    O Último Turno foi o que menos gostei, digamos que achei "mais do mesmo", e o que salvou o livro ao meu ver foi as últimas dezenas de páginas. Enfim, como dito na resenha, a trilogia ficaria muito melhor em um só livro !

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  3. Parabéns pela resenha! Terminei de ler Mr. Mercedes hoje e procurei por resenhas dos outros dois livros da trilogia. Sou fã do Stephen King, mas terminei a leitura bastante decepcionado com a obra; esperava mais. A cena de abertura - o massacre do City Center - sensacional e real. Mas foi parou por aí. Achei o livro com diversas situações banais e forçadas, principalmente o fato dele não contar ao ex-parceiro sobre o caso, porém dividir informações com uma criança e uma mentalmente instável (mas inteligente). Os personagens parecem um pouco estereotipados e fracos em comparação com outros livros do autor. E, lendo sua resenha, parece que vou economizar dinheiro.

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  4. Eu gostei desses dois últimos da trilogia, mas meu preferido é o primeiro, Mr Mercedes, tanto que entra no meu top 10 do King

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