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Resenha | Os Senhores dos Dinossauros de Victor Milán


Os Senhores dos Dinossauros é o primeiro volume de uma trilogia intitulada "The Ballad of Karyl's Last Ride", uma fantasia épica montada em grandes répteis jurássicos, escrita por Víctor Milán, conhecido pelos leitores brasileiros por ser um dos fundadores da série Wild Cards, sendo uma de suas criações mais famosas o Dr. Mark Meadows, além de ter tido alguns contos publicados na edição nacional da Isaac Asimov Magazine, com destaque especial para o conto O Mundo Flutuante que abriu a primeira edição da coleção. 

A história se passa em um mundo chamado Paraíso, no continente de Nuevaropa, no qual existem versões medievais dos países europeus, como Alemania e Anglaterra, entretanto o autor frisa, através de uma nota no início do livro, que este mundo não é a Terra, não foi a Terra, jamais será a Terra e não é uma Terra alternativa e todo o resto é possível. A questão que mais desafia os leitores é descobrir como coexistência entre seres humanos e dinossauros é possível, Víctor Milán não entrega sua mitologia pronta e embalada diretamente nas mãos do leitor.

Sua narrativa segue despreocupadamente uma linha de acontecimentos, é nas entrelinhas que as informações são habilmente lançadas, uma metáfora perdida, fragmentos de pensamentos de um personagem ou até uma conversa aparentemente banal entre as damas da corte, servem como pistas para a formação do grande mosaico histórico que visa responder a questão principal: em que tipo de linha temporal bizarra o homem consegue domar dinossauros?

Uma leitura cuidadosa revela várias referencias e a partir delas há várias teorias e conclusões possíveis, mas antes de entrar nesse campo é preciso fazer uma breve introdução aos dinossauros de Victor Milán. Curiosamente eles são baseados nas mais recentes descobertas científicas, que afirmam que todos os predadores possuíam penas, segundo as lendas dinossauros sempre existiram em Paraíso, a Cartilha do Paraiso para o Progresso de Mentes Jovens, legado dos Criadores, traz toda a terminologia popular e científica das criaturas. Mas quem são os Criadores? São as oito divindades a quem é atribuída à criação do mundo. 

Como são a forma de vida predominante no planeta, os dinossauros servem as mais diferentes necessidades do homem, além daqueles que são "domesticados" como montaria de guerra, dependendo principalmente do seu porte e sua constituição são utilizados ainda como animais de tração, fonte de alimento e matéria prima para a confecção de vestimentas e armaduras de couro. Existem várias maneiras de se treinar um dinossauro, há aqueles que são criados em cativeiro, mas cuja ferocidade em batalha é questionada já que são submissos a várias pessoas, e aqueles que são capturados no exato momento de seu nascimento, o primeiro ser vivo que o filhote enxerga ao sair de seu ovo é o que considera como mãe, deste modo o domador pode ensiná-lo com a certeza de que será o único ser temido pela criatura, esses homens são conhecidos como Senhores dos Dinossauros. 

A partir de aqui é tudo especulação baseada nas minhas conclusões a partir de fragmentos da história de Paraíso, parcimoniosamente revelados pelo autor, não há nenhuma revelação do enredo e talvez esse conhecimento prévio lhe ajude durante a leitura. Os Criadores são homens da Terra, de uma versão altamente evoluída da nossa realidade, algum tipo de cataclismo tornou o planeta inabitável para qualquer forma de vida, forçando-os a buscar mundos passíveis de colonização através dos confins do espaço. 

Quando Paraíso foi encontrado provavelmente já era habitado por dinossauros, os escritos dizem que os Criadores depois de se certificarem que aquele mundo era agradável e que havia possibilidade do desenvolvimento de vida, trouxeram "os seres humanos", bem como ervas e sementes do antigo planeta, agora conhecido simplesmente como Lar, além dos "cinco amigos", os únicos mamíferos existentes em Paraíso, o cavalo, o bode, o cão, o gato e furão. 

Os Criadores serem do nosso planeta basicamente explica a nomenclatura dos países e nações, além do nome do mundo ter uma conotação mais sentimental para aqueles exilados, o paraíso. Explica também como uma sociedade medieval possa ter o conhecimento da terminologia científica de cada raça de dinossauro. Se quisermos extrapolar ainda mais nas teorias criacionistas de Paraíso, podemos considerar incluir o conto O Mundo Flutuante, como uma espécie de possível prólogo. 

No conto a Terra sofre os últimos espasmos da Quarta Guerra Mundial, explosões nucleares devastaram grande parte do globo, enquanto um dos últimos redutos da humanidade, uma gigantesca nave conhecida como Mundo Flutuante tripulada por astronautas de várias nacionalidades, orbita ao redor do planeta impotentes diante da destruição final. Há ainda os Anjos Cinza, porém falar sobre eles revelaria muitas partes do enredo, então deixemo-los para a resenha de The Dinosaur Knights.

A história começa com uma grandiosa batalha envolvendo os príncipes guerreiros do Imperador Felipe Delgao e o rebelde voyvod Karyl Bogomirskiy. O campo de batalha está coalhado de sangue de cavaleiros e criaturas,  gritos de dor e desespero de homens são abafados pelos urros de fúria de imensos dinossauros cobertos com armaduras de aço, em um tipo de visão infernal que pode enlouquecer o observador mais são. 

O leitor tem acesso a essas imagens através dos olhos de Rob Corrigan, um senhor dos dinossauros que assiste impassível à traição ao exército de Karyl, criando memórias que mais tarde servirão de inspiração para suas produções como menestrel. O plano dos rebeldes fracassa, mas uma conspiração floresce neste ambiente de morte, mais sombria e destruidora que qualquer guerra, insidiosamente invadirá a corte de Nuevaropa como um câncer maligno em um corpo debilitado. A narrativa segue a visão de um grupo de protagonistas, um cavaleiro, uma dama e um senhor dos dinossauros, a trama se desenrola aos poucos, conforme as páginas avançam o ritmo aumenta, mas inicialmente parece que a estória não evolui.

A construção narrativa de Os Senhores dos Dinossauros é completamente diferente do que eu estava acostumado a encontrar em livros de fantasia até então, a primeira metade do livro é bem lenta, nela Victor Milán delineia as principais características das sociedades e pessoas de Paraíso, desde religiões, organizações políticas e sociais, até os contornos históricos. Porém tudo é feito de uma forma bastante implícita, através de diálogos e ações, o leitor é forçado a entrar em mundo desconhecido e, como um cego que "voltou" a enxergar, aprender aos poucos os costumes e hábitos de Nuevaropa. 

A segunda parte é completamente diferente, após o leitor se acostumar com o novo mundo a narrativa torna-se ágil, os protagonistas tornam-se velhos amigos e cria-se um suspense e ansiedade em torno de um clímax. O inicio de cada capítulo traz uma descrição detalhada de alguma raça de dinossauro, mas mesmo com as belas ilustrações presentes no livro, se você não pesquisar os aspectos físicos de cada criatura, as descrições já confusas das guerras ficarão ininteligíveis. 

O foco de Os Senhores dos Dinossauros é a construção de uma sustentação para o fantástico e promissor mundo de Victor Milán, talvez por isso não haja aquele desenvolvimento épico de batalhas que os fãs tanto esperavam, está mais para uma grande introdução da vasta mitologia de Paraíso. A conclusão é brutalmente misteriosa, até as linhas finais existiam centenas de questões não respondidas, o último diálogo multiplica a maioria das certezas que existiam.

   
 Os Senhores dos Dinossauros (2015) | Ficha Técnica 
   Título original: The Dinosaur Lords (2015)
   Autor: Victor Milán
   Tradutor: Alexandre Callari
   Editora: Darkside Books
   Páginas: 480 páginas
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   Nota:☠☠☠☠☠☠☠(8/10 Caveiras)

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1 Comentários

  1. Ótima resenha! Agarrei o livro essa semana e fiquei em duvida se comprava ou não, se tivesse lido a resenha antes teria comprado :)

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