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Resenha | Golem e o Gênio de Helene Wecker


Golem e o Gênio é uma fábula moderna tão cuidadosamente escrita que se passa por ficção histórica, Helene Wecker consegue combinar maravilhosamente o universo particular da New York formada pelos bairros imigrantes do final do século XIX com seres fantásticos advindos da mitologia de culturas antigas. Do mesmo modo que Neil Gaiman em Deuses Americanos transportou as lendas folclóricas do velho continente para a América, a autora insere as criaturas mágicas no contexto atual com uma exploração inteligente do choque cultural que sofrem ao se confrontarem com a sociedade moderna. 

A trama robusta como o tronco de uma árvore centenária se baseia na relação entre a golem e o gênio, mas assim como o tronco precisa de galhos, folhas e flores para ser bonito, a estória possui personagens secundários que enriquecem a leitura e dão grandes explicações com relação à origem dos mitos e suas interpretações. É o tipo de livro que você não lê, é sugado para dentro da estória e sente cada palavra com a mesma intensidade que os protagonistas. 

No folclore judaico o Golem é um ser construído de barro, animado por um experiente rabino, através dos mesmos poderes místicos que envolveram a criação de Adão e Eva, que através de palavras mágicas tem completo controle sobre a criatura. Uma das lendas mais famosas envolvendo a figura do golem é a do rabino Judá Loew ben Betzalel que supostamente construiu um para defender os judeus de Praga contra ataques antissemitas. Em uma das versões o golem é chamado de Jossef e além de possuir força sobre humana podia ficar invisível e invocar o espírito dos mortos. 

Mas todas as estórias concordam em um ponto, no final o golem é tomado por uma fúria assassina  e se torna um monstro violento até sua destruição. A própria essência do Golem é violenta, a partir do momento que  experimenta a raiva e ódio é impossível controlar suas ações, mesmo com palavras mágicas. Helene Wecker constrói sua Golem a partir destas lendas, sua exploração é similar a que Mary Shelley reproduz em Frankenstein, uma criatura inocente que se descobre viva em um mundo novo e totalmente aterrorizante sem nenhum mestre por perto. 

A mitologia árabe diz que os gênios são seres feitos de ar e fogo, mas também podem assumir formas físicas, que vivem em um mundo invisível paralelo ao nosso. No Alcorão, os gênios, juntamente com os homens e anjos, fazem parte das três criações inteligentes de Deus, sendo igualados aos humanos por possuírem o livre-arbítrio. No misticismo muçulmano existem cinco classes de gênios, os Marid, os mais poderosos, os Ifrit, os Shaitan, malignos, os Jinn e os Jann, os mais fracos.
 
O poder de um gênio é muito cobiçado, as lendas dizem que não há limites para o que eles podem fazer, de modo que magos e estudiosos sempre tentaram encontrar formas de capturá-los e forçá-los a realizarem desejos. O Gênio de Helene Wecker foi capturado há centenas de anos de sua morada no meio do deserto Sírio, preso em uma lâmpada mágica passou gerações esquecido até que um ferreiro o acabou liberando ao tentar consertar o artefato. A narrativa é construída com perfeição, os capítulos se intercalam com as visões dos dois protagonistas, ao trazer flashbacks da existência anterior do gênio e insights de personagens secundários relevantes na criação da golem. 

A dosagem de elementos fantásticos na narrativa mostra o primor da autora na construção de seu texto, que não se excede em nenhum dos campos em que se propõe caminhar, é uma estória de amizade e amor sem ser melodramática, é um suspense sobrenatural que consegue manter um ritmo regular de mistério sem ser muito sombrio, é uma fantasia urbana que ultrapassa os limites da imaginação e flerta com a realidade. Golem e o Gênio é um grande livro uma fábula emocionante  para ser devorada, sentida e para sempre lembrada. 

   Golem e o Gênio (2015) | Ficha Técnica 
   Título original: The Golem and the Jinni (2013)
    Autora: Helene Wecker
   Tradutora:  Cláudia Guimarães
   Editora: Darkside Books
   Páginas: 514 páginas
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   Nota: ☠☠☠☠☠☠☠☠☠☠ (10/10 Caveiras)

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2 Comentários

  1. É um livro cansativo.Há uma descrição exacerbada do passado de personagens secundários.Além disso,nas primeiras 200 páginas nada acontece ,fazendo o leitor desistir da leitura.

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  2. Li umas 100 páginas até agora e em partes concordo com a Erica, muito passado e pouco presente, me fez lembrar A Batalha do Apocalipse, onde existe um detalhamento exagerado de aventuras do passado enquanto não é relatado quase nada do presente. Veremos como Golem e o Gênio vai se desenvolver daqui pro final, a ideia é boa, tem tudo pra dar certo!

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