Últimas Resenhas

6/recent/ticker-posts

Resenha | Tigana: A Lâmina na Alma de Guy Gavriel Kay


Eis um livro que me impressionou, sua leitura foi extremamente diferente do esperado, Tigana se mostra uma ficção fantástica cujos personagens beiram as raias da realidade, em seu complexo desenvolvimento e magia é poderosa e sofisticada. Guy Gavriel Kay possui um estilo de escrita bastante pessoal, dando enfoque às emoções de seus protagonistas, a relação política existente entre governo e religião, as tradições, além do poder que advém da magia. 

A Saída de Emergência fez um belo trabalho com o livro porém a ideia de dividir Tigana em dois volumes não me agradou muito, A Lamina Na Alma e A Voz da Vingança como são chamados, ao terminar o primeiro volume fica aquela estranha e incômoda sensação de que falta algo, de que a história continuou sozinha e os personagens nos abandonaram no meio do caminho.

Geralmente os livros de fantasia em sua primeira metade servem para apresentar os personagens e o mundo no qual a trama se passará, algum acontecimento passado de extrema relevância será relembrado em flashbacks pessoais que aumentarão o elo entre leitor e protagonista, além de principiar os acontecimentos que levarão os dois lados se enfrentar na segunda metade da história, a parte final. 

Há todo um ritmo que cresce ao longo das páginas conforme o mundo se torna conhecido e as dores dos personagens são assumidas pelo leitor, o ritmo da leitura cresce até alcançar a voracidade faminta com que as paginas finais são consumidas. Em Tigana, A Lâmina da Alma, quando a história parece aumentar de ritmo é bruscamente interrompida pelo final do volume. A Editora teve cuidado com a escolha da passagem na qual a história acaba, mas mesmo assim sente-se falta do prosseguimento da trama. Isso é o coração de leitor falando.

Imagine uma fantasia medieval que tem como cenário um estado renascentista, com alguns toques de Grécia Antiga, e com uma realidade brutalmente próxima dos despostas dos séculos passados. A Península de Palma tem suas províncias dominadas por dois magos, que impuseram seus poderes para derrotar os exércitos e comandar o povo amedrontado, são eles: Alberico de Barbarion e  Brandin de Ygrath ambos pertencentes a terras além de Palma. 

Mas as pessoas não se deixaram dominar facilmente, cada província lutou ferozmente por sua liberdade, porém seu erro maior foi não se unir em frente ao mal comum mas se entrincheirar e enfrentar com armas o poder da magia. A vitória mais difícil e extenuante coube a Brandin na província de Tigana, onde os guerreiros enfrentaram até a morte as tropas chefiadas pelo próprio filho do mago, o confronto trouxe sérias perdas a ambos os lados sendo o herdeiro de Brandin a mais considerável delas.

Brandin de Ygrath ficou tão marcado pelo desejo de vingança que o massacre que se seguiu a batalha não serviu para acabar com seu desejo de sangue. Somente a destruição total de Tigana serviria como consolo. O mago então lançou um feitiço tão poderoso que destruiu qualquer lembrança da existência de Tigana da mente dos habitantes de província de Palma e o nome foi banido daquelas terra, ninguém a não os nativos dela poderiam pronunciar ou ouvir o nome Tigana, de modo que sua vingança estava quase completa. 

Tudo o que restou é a espera que todos os descendentes daqueles que conseguiram escapar do massacre se esqueçam de suas raízes apagando para sempre da memória do povo a existência da antiga província. Porém um pequeno grupo ainda se lembra de sua terra e liderados pelo príncipe perdido partem em busca de vingança contra o mago e a consequente recuperação do nome de sua terra natal.

A leitura de Tigana é um pouco complicada pois exige atenção, a fluidez do texto garante um avanço rápido porém existem pequenas nuances entre os personagens que podem se perder e explicam muito da personalidade de determinado protagonista e o porquê de suas ações, envolvendo lembranças e divagações. Os conceitos de bom e mal são bem explorados, os dois lados da moeda são apresentados ao leitor cabendo somente a ele o julgamento do certo e do errado, o caráter é um aspecto bem aproveitado na trama, todos fazem o que tem de fazer para sobreviver neste mundo cruel. 

A ação se enfoca mais na política, as revoltas sussurradas, as traições familiares, promessas em troca de poder, batalhas de olhares. Se você é um leitor de fantasia que busca lutas de espadas e grandiosos truques mágicos este definitivamente não é um livro para você. Agora se busca uma trama mais complexa, puxe uma cadeira e sirva-se da garrafa de vinho, não encare os outros ao redor tão gravemente, não garanto sua segurança. É hora de conhecer a história de Tigana.

   
  Tigana: A Lâmina na Alma (2014) | Ficha Técnica 
   Título original: Tigana (1999)
   Autor: Guy Gavriel Kay
   Tradutor: Carlos Daniel Vieira
   Editora: Saída de Emergência Brasil
   Páginas: 368 páginas
   CompreAmazon
   Nota:☠☠☠☠☠☠☠(9/10 Caveiras)

Postar um comentário

3 Comentários

  1. Com certeza irei comprar este livro, a história com mescla entre fantasia e real (de certa forma) me agrada muito, gosto de ler devagar e com atenção, mesmo sabendo do final cortado quero conhecer melhor esta história. Parabéns pela resenha.

    Valeu Rafa
    Diego de França
    Leitor Sagaz

    ResponderExcluir
  2. Gostei da capa e da sinopse, pretendo ler em breve mas esse negocio de livro dividido me preocupa... Nao sei se aguento esperar eles lançarem o outro livro logo, se bem que com O Mago foi menos de 3 meses né? Ótima resenha.

    ResponderExcluir
  3. Olá,

    Vou começar a ler Tigana ainda hj, e espero gostar desse livro tanto quanto vc! Parabéns pela resenha, muito boa e esclarecedora! :D

    Abraços e boas leituras!!!

    http://amandatrindadepalavrasaovento.blogspot.com.br/

    ResponderExcluir