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Resenha | A Noite dos Mortos-Vivos e A Volta dos Mortos-Vivos de John Russo


Em busca de títulos de horror para o recente refinado gosto do leitor brasileiro a DarkSide revisita o mesmo local de onde ano passado encontrou Psicose se debatendo freneticamente em seu caixão tentando sair e adentrar a mentes dos incautos. No canto mais sombrio e escuro, embaixo da frondosa árvore, um livro se erguia sujo de terra e manchado de tinta, a seus pés restos de outros livros semidevorados se revolviam nos últimos estertores da morte. Era A Noite dos Mortos Vivos de John Russo que após quarenta e cinco anos de espera finalmente irá infectar os leitores brasileiros. 

A edição brasileira compilou em um único livro A Noite dos Mortos Vivos, novelização do filme e sua continuação que não chegou a ser filmada A Volta dos Mortos-Vivos. Stephen King em sua bíblia do horror Dança Macabra dedicou várias páginas ao clássico de 1968 e como sua criação revolucionou o apocalipse zumbi da atualidade, além de tecer elogios a trama e maneira como o suspense é conduzido. Os mortos-vivos de Romero e Russo são bem diferentes dos que permeiam a ficção atual, anos de filmes de baixo orçamento e histórias clichês deturpou a imagem do zumbi criada por eles tornando-os cômicos, se não menos assustadores. 

Quem já viu qualquer filme de zumbi do Romero sabe que suas criações não são inteligentes como eram em vida, mas possuem um resquício de atividade cerebral dentro de suas cabeças apodrecidas, que os norteia nas mais diversas situações, como por exemplo na cena de A Noite dos Mortos-Vivos em que em meio a uma batalha corpo a corpo o zumbi pega uma pedra em mata seu desafiante com vigorosas e repetidas batidas no crânio. Outro aspecto contido no livro, é que os zumbis matam suas vítimas antes de devorá-las preferindo um cadáver quente e imóvel para uma degustação mais calma e saborosa.

A Noite dos Mortos-Vivos
Quem conhece Romero sabe da sua preocupação em usar os zumbis para conduzir uma discussão social não só com relação ao comportamento dos zumbis mas também ao comportamento das pessoas diante do apocalipse, assunto mais abordado em A Volta dos Mortos-Vivos. Os zumbis do livro são uma metáfora para o lado mais animal e brutal do ser humano, em seu estado mais puro e livre de todas as amarras sociais e restrições do gênero tudo o que sobra é uma carcaça maligna com um único propósito matar. 

Questões como o racismo são dissecadas através da colocação de um protagonista negro na trama, além de uma ácida crítica ao feminismo através das ações e reações da protagonista que assume totalmente o papel da mulher indefesa e histérica. A primeira cena demonstra o tom sombrio que acompanha o leitor no livro inteiro. Em um cemitério dois irmãos visitam o túmulo de seu pai, a viagem foi longa e as várias vezes em que se perderam no meio do caminho, além da dificuldade de encontrar a lápide certa, fez com que encontrassem o túmulo quando os últimos raios do  sol tocavam a copa das árvores.

O ar frio da noite já se imiscuía pela folhagem e os animais noturnos que a essa hora deveriam em cacofonia anunciar a noite estavam estranhamente quietos. Uma sombra vagava sem rumo no outro lado do cemitério, seu caminhar cambaleante e sem destino aparente assustou os protagonistas que  contra a vontade ficaram observando a aproximação do homem. Porém aquilo não era humano. Não mais.

A Volta dos Mortos-Vivos
Diferente das tramas atuais no qual o mundo em pouco tempo entra em colapso em um apocalipse zumbi em A Noite dos Mortos-Vivos e A Volta dos Mortos-Vivos as pessoas se viram bastante bem. As principais áreas afetadas foram as fazendas e propriedades rurais isoladas, as cidades devido a sua concentração de população e arquitetura puderam ser defendidas mais rapidamente e com mais êxito. Aqueles que moravam no campo e acostumados ao sossego que o isolamento traz foram pegos de surpresa pelos mortos-vivos e serviram de alimento para a horda cada vez mais crescente, aqueles cuja mutilação não os impedia de andar se uniram as cada vez mais numerosas fileiras. 

Não é à toa que o enredo do primeiro livro se passa em uma fazenda e sua trama se foca em se acomodar e ter esperança de um possível resgate ou lutar até as forças acabarem para escapar e buscar ajuda. Em A volta dos Mortos-Vivos, John Russo expõe as mais diversas ramificações sociais que um emblemático ataque dos mortos-vivos causa a sociedade. Todos os valores ensinados desde a infância e cultuados em público caem por terra quando o assunto é sobrevivência, algumas pessoas se tornam monstros piores que os zumbis. Um homem é medido por suas ações quando está sozinho, no caso sem a observação da sociedade. 

Os dois livros possuem finais surpreendentes que deixam o leitor de queixo caído, como é de praxe em histórias do gênero, por isso se você espera encontrar um final de felizes para sempre onde todos sobrevivem, não se iluda. Essa é uma história bastante crível acerca de uma invasão zumbi, e como em situações reais nem sempre o socorro chega a tempo, nem sempre aquela pessoa medrosa redescobre a coragem e poucas vezes alguém se sacrifica em prol da maioria.  A Noite e A Volta dos Mortos-Vivos são uma leitura essencial a todo o fã de histórias de zumbis!

   
A Noite dos Mortos-Vivos (2014) | Ficha Técnica 
   Título original: Undead (2010)
   Autor: John Russo
   Tradutor: Lucas Magdiel
   Editora: Darkside
   Páginas: 320 páginas
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   Nota: ☠☠☠☠☠☠☠ (10/10 Caveiras)

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5 Comentários

  1. Ótima resenha Rafa ! Comprei este livro quando lançou e ainda não li, mas depois dessa sua resenha, me empolguei e será meu próximo livro assim que eu terminar Os Mortos Vivos de Peter Straub e ler A Narrativa de Arthur Gordon Pyn de Poe. Maurilei.

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  2. Adorei a resenha, pessoalmente não era um livro que me interessava em ler, mas agora vou com certeza adicionar a minha lista!!!

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  3. Ótima resenha. Me fez desejar, ainda mais o livro.
    E caveiras nas notas.. wow muito demais...

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  4. Rafa mais uma vez você fez uma excelente resenha, estou lendo este livro e gostando muito, é bem diferente a visão original dos zumbis, o que temos hoje nem se compara.
    Vou correr para terminar logo esta leitura.

    Abraço,
    Diego de França
    Leitor Sagaz | Participe do Top Comentarista | Grupo Amantes da Literatura no Facebook

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  5. Acabei de ler este livro, e confesso que achei ele melhor do que eu esperava. O suspense em muitas cenas e o dinamismo que tudo se desenrola, sem enrolação, mas não deixando de lado as descrições, tudo isso foi excelente. Uma ótima leitura sem dúvida alguma. Maurilei.

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