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Resenha | Fluam, Minhas Lágrimas, Disse o Policial de Philip K. Dick


Ler Philip K. Dick é revigorante, todo leitor deveria ter sua dose mensal de PKD para desenvolver sua percepção de realidade e de si mesmo como ser humano.  Até onde o que os nossos olhos veem todos os dias é real? O que não nos garante de que tudo isso que vivemos não é nada mais que o devaneio de uma mente luxuriosamente drogada em algum canto obscuro de um beco fétido? O autor insere muitas dúvidas na mente do leitor e não são poucas as reviravoltas no enredo de suas histórias. Fluam, Minhas Lágrimas, disse o policial além de exemplificar seu talento inigualável para nomear suas obras, traz profundas reflexões acerca da identidade pessoal de cada um. 

Como você pode provar ser quem realmente é? Lembranças? Bom no mundo de Dick elas são vendidas a um preço realmente acessível. Documentos? Qualquer um pode falsifica-los com certo grau de competência. As pessoas ao nosso redor? Agora sim, estamos chegando ao cerne da questão, tudo o que fazemos no nosso cotidiano é em busca de reconhecimento por parte do próximo como sociedade, a nossa identidade é assegurada pelos que vivem ao nosso redor que além de moldá-la servem como exemplo, como é o caso da família.

Porém imagine se em um dia qualquer ao acordar, você deparar-se com a descoberta de que ninguém se lembra da sua existência? Amigos e familiares desconhecem a sua existência, os bancos de dados do governo não possuem qualquer registro sobre sua pessoa. A única coisa que existe é uma a lembrança de uma vida inteira em sua memórias. É exatamente isso que acontece com Jason Taverner (A leitura me lembrou do personagem de Robert Ludlum, ambos compartilham, além do nome, situações idênticas e contrárias ao mesmo tempo, enquanto Bourne não se lembra de sua identidade tem que fugir daqueles que o conhecem, Taverner lembra quem é [ou foi] além de também ser perseguido, mas por aqueles que não o conhecem e o querem justamente por esse motivo). 

PKD cria personagens de uma complexidade e realidade fantásticas, há sempre melancolia presente nos protagonistas masculinos que se mescla com sua reclusão solitária no meio social, algo parecido com o que Kafka produz em suas criações, ou ao menos foi a sensação que tive com Rick Deckard em Caçador de Androides, Barney Mayerson em Os Três Estigmas de Palmer Eldritch e agora Jason Taverner.

Fluam Minhas Lágrimas se insere no contexto politico da década em que foi escrita, o conturbado inicio da década de setenta. O governo na obra é apresentado em um cenário distópico onde um Estado formado por policiais subiu ao poder após uma revolta social, protagonizada por estudantes, que ainda resistem nos subterrâneos das ruínas das antigas universidades. Rígido e repressivo, os governantes obtêm controle da população através da monitoração de microtransmissores e inúmeras barreiras de controle onde a documentação é analisada minuciosamente.

É nesse cenário que Jason Taverner acorda, sem que alguém o reconheça (ele é [era] um apresentador famoso cujo programa atingia milhões de telespectadores tendo seu rosto como um dos mais famosos já mostrados na TV) tem que percorrer as ruas sem documentação e a proteção que deles advém, sua única alternativa é tentar encontrar o submundo das falsificações povoado de informantes policiais. Começa então sua corrida desesperada em busca de ajuda, onde suas descobertas mudarão totalmente sua vida. Cheia de ironia e subtramas é a história mais complexa e elabora de PKD que li até agora.

   
 Fluam, Minhas Lágrimas, Disse o Policial (2013) | Ficha Técnica 
   Título original: Flow My Tears, the Policeman Said (1974)
   Autor: Philip K. Dick
   Tradutor: Ludimila Hashimoto
   Editora: Aleph
   Páginas: 256 páginas
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   Nota:☠☠☠☠☠☠(10/10 Caveiras)

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3 Comentários

  1. Mais um pra minha lista!!!!!! Adorei a resenha. Já tinha ouvido falar do autor, mas não tinha me interessado em ler. Mas isso será corrigido o mais rapidamente possível.

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  2. A-DO-REI! Sério! Muito sério! Adorei a enredo, adorei o título e adorei a resenha ;)

    Já tá nos desejados!
    Beijoos
    Um Metro e Meio de Livros

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